“Não tem
essa besteira de Brasil-Brasil-Brasil, isto é coisa para os iludidos de minha
marca, que agora estão abrindo os olhos. Agora tem o Brasil das mulheres e o
Brasil dos homens, o Brasil dos negros, o Brasil dos brancos, o Brasil dos
evangélicos e o Brasil dos católicos, e nem sei quantas categorias, tudo é
dividido direitinho e entremeado de animosidades: todo mundo agora dispõe de
várias categorias para odiar.” (João Ubaldo Ribeiro, O Estado de
S.Paulo, 03/11/2013,
Caderno 2, C7)
Na semana em
que se comemora a Independência do Brasil, e com a proximidade da eleição de
novos governantes e legisladores do Estado e dos estados, cabem algumas
reflexões a respeito desses “Brasis” que foram se criando desde o 7 de setembro
de 1822, divididos entre “nós” e “eles”, além de entremeados daquelas outras
animosidades de toda sorte.
Já no ano
passado (O Estado de S.Paulo, 16/11/2013), o professor da USP e da
PUC-SP Oliveiros S. Ferreira elogiava D. Pedro I e constatava que “os que
fundaram o Império são vistos até hoje como indivíduos não só estúpidos, como
sem etiqueta alguma no trato social. Não importa que D. Pedro I tenha dado ao
País uma Constituição que durou mais de 40 anos com uma única emenda, revogada
quando ficou claro que a unidade do Estado estava em jogo. A Guerra do Paraguai
não decorreu de uma invasão do território nacional – foi feita pelo Brasil a
mando da Inglaterra! Outras tantas atitudes foram tomadas por pressão dos
norte-americanos. Seria de estranhar que um País sem História, sem brasileiros,
portanto, sem consciência de Brasil, fosse hoje não um Estado, mas a reunião de
corporações? É de estranhar que não saiamos da crise, se todos os nossos males
são sempre dados como efeito da índole da raça e dos interesses externos?”.
Por outro lado,
o empresário e economista Gastão Reis Rodrigues Pereira escreveu (O Estado de S.Paulo, A2, 03/09/2014): “Otto von Bismarck e D.
Pedro II sabiam, como estadistas que eram, que a política e as políticas
públicas precisam ser conduzidas com visão de longo prazo. Quando os interesses
escusos de curto prazo predominam, é certo que a coisa vai desandar, como está
ocorrendo. Basta ler os jornais e as revistas. Ou ir ao supermercado conferir
os preços.”
Talvez uma maneira de reunir esses vários “Brasis” em que
o Brasil se encontra dividido e categorizado seja ir votar, em outubro,
elegendo quem proponha programas e políticas públicas ‒ educação, saúde, segurança, cultura, etc. ‒ de médio e longo prazo, visando ao bem comum de todos os
cidadãos, e não apenas ao bem estar imediato dos seus.
É urgente aproveitar a
oportunidade de fazer a parte de cada um para melhorar a qualidade dos
políticos que serão eleitos: que se exija deles mais verdade, justiça, ética e
interesse em todo o povo brasileiro e não apenas naqueles que votaram neles.
Anular o voto, votar em branco ou não ir votar (cidadãos
entre 16 e 18 anos, ou de mais de 70 anos) favorece a continuidade da divisão
do Brasil em “Brasis” cheios de animosidade.
Edição n.º 951 - Página 01
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