sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O Brasil dividido em vários “Brasis”


Não tem essa besteira de Brasil-Brasil-Brasil, isto é coisa para os iludidos de minha marca, que agora estão abrindo os olhos. Agora tem o Brasil das mulheres e o Brasil dos homens, o Brasil dos negros, o Brasil dos brancos, o Brasil dos evangélicos e o Brasil dos católicos, e nem sei quantas categorias, tudo é dividido direitinho e entremeado de animosidades: todo mundo agora dispõe de várias categorias para odiar.” (João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S.Paulo, 03/11/2013, Caderno 2, C7)


Na semana em que se comemora a Independência do Brasil, e com a proximidade da eleição de novos governantes e legisladores do Estado e dos estados, cabem algumas reflexões a respeito desses “Brasis” que foram se criando desde o 7 de setembro de 1822, divididos entre “nós” e “eles”, além de entremeados daquelas outras animosidades de toda sorte.
Já no ano passado (O Estado de S.Paulo, 16/11/2013), o professor da USP e da PUC-SP Oliveiros S. Ferreira elogiava D. Pedro I e constatava que “os que fundaram o Império são vistos até hoje como indivíduos não só estúpidos, como sem etiqueta alguma no trato social. Não importa que D. Pedro I tenha dado ao País uma Constituição que durou mais de 40 anos com uma única emenda, revogada quando ficou claro que a unidade do Estado estava em jogo. A Guerra do Paraguai não decorreu de uma invasão do território nacional – foi feita pelo Brasil a mando da Inglaterra! Outras tantas atitudes foram tomadas por pressão dos norte-americanos. Seria de estranhar que um País sem História, sem brasileiros, portanto, sem consciência de Brasil, fosse hoje não um Estado, mas a reunião de corporações? É de estranhar que não saiamos da crise, se todos os nossos males são sempre dados como efeito da índole da raça e dos interesses externos?”.
Por outro lado, o empresário e economista Gastão Reis Rodrigues Pereira escreveu (O Estado de S.Paulo, A2, 03/09/2014): “Otto von Bismarck e D. Pedro II sabiam, como estadistas que eram, que a política e as políticas públicas precisam ser conduzidas com visão de longo prazo. Quando os interesses escusos de curto prazo predominam, é certo que a coisa vai desandar, como está ocorrendo. Basta ler os jornais e as revistas. Ou ir ao supermercado conferir os preços.”



Talvez uma maneira de reunir esses vários “Brasis” em que o Brasil se encontra dividido e categorizado seja ir votar, em outubro, elegendo quem proponha programas e políticas públicas educação, saúde, segurança, cultura, etc. de médio e longo prazo, visando ao bem comum de todos os cidadãos, e não apenas ao bem estar imediato dos seus.
É urgente aproveitar a oportunidade de fazer a parte de cada um para melhorar a qualidade dos políticos que serão eleitos: que se exija deles mais verdade, justiça, ética e interesse em todo o povo brasileiro e não apenas naqueles que votaram neles.
Anular o voto, votar em branco ou não ir votar (cidadãos entre 16 e 18 anos, ou de mais de 70 anos) favorece a continuidade da divisão do Brasil em “Brasis” cheios de animosidade.  


















                                                                                                   Edição n.º 951 - Página 01

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