sexta-feira, 6 de março de 2015

Hilda Hilst, mulher extraordinária



Na poesia, na dramaturgia e na ficção de Hilda Hilst há uma tríplice (e rara) conjugação de forças criadoras: a condição humana e a mulher (com seus problemas específicos) fundem-se numa terceira entidade, a poeta.” (Nelly Novaes Coelho, ensaísta, crítica literária e professora)



Pela passagem do Dia Internacional da Mulher, homenageio a extraordinária ficcionista, poeta e dramaturga Hilda Hilst (1930-2004).
No Itaú Cultural (SP), a exposição “Ocupação Hilda Hilst” mostra a face ficcionista dessa que é uma das grandes escritoras brasileiras. Lá estão, à disposição do público visitante, 300 documentos, entre diários, rascunhos e livros editados, cheios de anotações  que apontam os  processos criativos da autora.
A poeta Hilda Hilst conjugava forças criadoras envolvidas com os problemas específicos da mulher:

É meu este poema ou é de outra? / Sou eu esta mulher que anda comigo / e renova a minha fala e ao meu ouvido / Se não fala de amor, logo se cala? Sou eu que a mim me persigo / Ou é a mulher e a rosa que escondidas / (Para que seja eterno o meu castigo) / Lançam  vozes na noite tão ouvidas?

Outras vezes, suas indagações poéticas diziam respeito à condição humana e à existência do sagrado, com interrogações sobre Deus ̶  um ser comum, dependente dos homens para seu louvor e adoração. Para a poeta, o ser divino estaria sujeito a condições de solidão, tristeza e medo como qualquer ser humano:

O Deus de que vos falo / Não é um Deus de afagos. / É mudo. Está só. E sabe / Da grandeza do homem / (Da vileza também) / E no tempo contempla / O ser que assim se fez. /.../ E podereis amá-lo / Se eu vos disser serena / Sem cuidados, / Que a comoção divina / Contemplando se faz?

O que esperais de um Deus? / Ele espera dos homens que O mantenham vivo.

A face do meu Deus iluminou-se / E sendo Um só, é múltiplo Seu rosto.

A dramaturgia de Hilda Hilst é densa e política, mas metafórica e etérea.
Como produtor, tive a honra de, logo no início de minha carreira no teatro, em 1977, produzir a peça “O Verdugo”, no Teatro Oficina, em São Paulo. Como Hilda Hilst morava na sua “Casa do Sol”, nos arredores de Campinas, várias vezes fui visitá-la, junto com o diretor Rofran Fernandes e o artista plástico José Tarcísio, responsável pelos figurinos e cenário, para a tomada de decisões a respeito  da montagem cênica.        
Foi nessa ocasião que começou nossa amizade, mais que apenas uma relação de trabalho.
E, por um desses acasos do destino, minha última produção e direção teatral, em 1988, também foi uma peça da Hilda: “O Auto da Barca de Camiri”, no meu Teatro Aplicado, em São Paulo.



Por todas essas razões, homenageio as mulheres através da memória dessa amiga extraordinária, Hilda Hilst.











Edição n.º 977 - página 02

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