“Na poesia,
na dramaturgia e na ficção de Hilda Hilst há uma tríplice (e rara) conjugação de forças criadoras: a condição humana e a mulher (com seus problemas específicos) fundem-se
numa terceira entidade, a poeta.” (Nelly Novaes Coelho, ensaísta,
crítica literária e professora)
Pela passagem do Dia Internacional da Mulher, homenageio a
extraordinária ficcionista, poeta e dramaturga Hilda Hilst (1930-2004).
No Itaú Cultural (SP), a exposição
“Ocupação Hilda Hilst” mostra a face ficcionista dessa que é uma das grandes
escritoras brasileiras. Lá estão, à disposição do público visitante, 300
documentos, entre diários, rascunhos e livros editados, cheios de anotações que apontam os processos criativos da autora.
A poeta Hilda Hilst conjugava forças
criadoras envolvidas com os problemas específicos da mulher:
É meu este poema
ou é de outra? / Sou eu esta mulher que anda comigo / e renova a minha fala e
ao meu ouvido / Se não fala de amor, logo se cala? Sou eu que a mim me persigo
/ Ou é a mulher e a rosa que escondidas / (Para que seja eterno o meu castigo)
/ Lançam vozes na noite tão ouvidas?
Outras vezes, suas indagações
poéticas diziam respeito à condição humana e à existência do sagrado, com
interrogações sobre Deus ̶ um ser comum,
dependente dos homens para seu louvor e adoração. Para a poeta, o ser divino
estaria sujeito a condições de solidão, tristeza e medo como qualquer ser
humano:
O Deus de que vos
falo / Não é um Deus de afagos. / É mudo. Está só. E sabe / Da grandeza do
homem / (Da vileza também) / E no tempo contempla / O ser que assim se fez.
/.../ E podereis amá-lo / Se eu vos disser serena / Sem cuidados, / Que a
comoção divina / Contemplando se faz?
O que esperais de
um Deus? / Ele espera dos homens que O mantenham vivo.
A face do meu
Deus iluminou-se / E sendo Um só, é múltiplo Seu rosto.
A dramaturgia de Hilda Hilst é
densa e política, mas metafórica e etérea.
Como produtor, tive a honra de,
logo no início de minha carreira no teatro, em 1977, produzir a peça “O
Verdugo”, no Teatro Oficina, em São Paulo. Como Hilda Hilst morava na sua “Casa
do Sol”, nos arredores de Campinas, várias vezes fui visitá-la, junto com o
diretor Rofran Fernandes e o artista plástico José Tarcísio, responsável pelos
figurinos e cenário, para a tomada de decisões a respeito da montagem cênica.
Foi nessa ocasião que começou nossa
amizade, mais que apenas uma relação de trabalho.
E, por um desses acasos do destino,
minha última produção e direção teatral, em 1988, também foi uma peça da Hilda:
“O Auto da Barca de Camiri”, no meu Teatro Aplicado, em São Paulo.
Por todas essas razões, homenageio as
mulheres através da memória dessa amiga extraordinária, Hilda Hilst.
Edição n.º 977 - página 02
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