“Lugar sertão se divulga: é onde os
pastos carecem de fechos. O sertão está em toda parte. Quando o senhor quiser
sonhar, sonhe com aquilo... só estas veredas, veredazinhas. Sertão é onde o
pensamento da gente se forma mais forte que o poder do lugar. Sei o grande
sertão? Só quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão
sempre no alto, apalpando ares, com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas”
– João Guimarães Rosa, Escritor
Parafraseando Guimarães
Rosa
É incoerente você criar,
trabalhar e produzir sentindo a emoção de quem está atuando em um sertão
deserto.
Sentindo a sensação de que
o deserto se alastrou, invadindo gabinentes, repartições, secretarias e todos
os poderes. O mais desconcertante é ter a nítida impressão de que
administradores públicos e legisladores conseguiram apagar de seus registros
mentais, os compromissos assumidos.
...Apenas veredazinhas de
esperanças são percebidas, quando um ou outro membro da máquina administrativa
confessa o descontentamento geral e lamenta a impotência da “união”, em clima
de velório cívico.
Sonhar com o “passado de
promessas” não é consolo e não resolve o “presente de inatividades”. A falta de
um programa dinâmico de ação política esmorece o progresso. Felizmente, o
político eleito tem tempo limitado no poder. É bom que ele se lembre disso.
O que ainda reanima a
comunidade é que ela detém o poder do voto e este poder se depura com a
lucidez, a experiência e a avaliação crítica atenta dos atos (ou da falta
deles) dos políticos eleitos. Ser tão esperançoso é não se amofinar com a
indiferença dos políticos-múmias, que demonstram acreditar que posto eletivo é
sarcófago onde eles podem ficar instalados por milênios.
A indiferença deles chega a
“esfolar” seus eleitores. Mas este “esfolar” será como a ação do lapidador de
diamentes, que burila a pedra, lhe dá forma e extrai as impurezas, fazendo
aparecer a beleza do brilho.
Nossas misérias vão se
transformar em alegria, em tepo futuro.
O desgosto dos
colaboradores voluntários e dos eleitores esquecidos, por certo servirá de “elixir
cívico”, capaz de induzi-los para novas veredas:
Agora que já sabemos que a
pior seca não é a da ausência de água dos desertos, e sim a falta de compromisso
com a palavra empenhada; que o sertão mais sem fechos não é o geográfico , mas
o político desinteressado, vamos seguir o exemplo dos pássaros que voam alto.
A medida provisória mais à
mão talvez seja repensar a nossa maneira de confiar em homens de pensamento
político limitado.
Votemos então no próximo
período eleitoral, revigorando nosso sentimento cívico e exercendo o direito de
influenciarmos na mudança e determos a continuidade dos traiçoeiros seres tão sertões.
Edição n.º 980 – página 02
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