O povo brasileiro ocupou as
ruas para protestar, dentre tantas coisas que faltam para o bem estar de todos
(educação, saúde, segurança, moradia, alta dos preços, etc.), mas
principalmente contra os escândalos do mensalão, do Petrolão, enfim contra a
onda de corrupção que assola o país. Mas pouco se falou com relação ao BNDES, talvez por desconhecimento de
transações muito bem guardadas. De “tenebrosas transações” como cantaria Chico
Buarque em outra época!
Para quem não sabe, o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma
empresa pública federal, com sede no Rio de Janeiro e cujo principal objetivo é
financiar em longo prazo a realização de investimentos em todos os segmentos da
economia, de âmbito social, regional e ambiental, tendo autonomia
administrativa e personalidade jurídica própria, com seu patrimônio próprio. O
que se objetivou com a criação do BNDES foi apoiar empreendimentos que
contribuam para o desenvolvimento do Brasil para que, desta ação, resultassem
a melhoria da competitividade da economia brasileira e a elevação da qualidade
de vida da sua população.
Ocorre que desde que Guido
Mantega deixou a presidência do BNDES, em 2006, e se tornou Ministro da
Fazenda, no mesmo ano, o BNDES tornou-se peça chave no modelo de
desenvolvimento proposto pelo governo. Desde então, o total de empréstimos
do Tesouro ao BNDES saltou de R$ 9,9 bilhões — 0,4% do PIB — para R$ 414
bilhões — 8,4% do PIB. Alguns desses empréstimos, aqueles destinados a
financiar atividades de empresas brasileiras no exterior, eram considerados
secretos pelo banco. Só foram revelados porque o Ministério Público Federal
pediu na justiça a liberação dessas informações.
Ora, e o que fez o BNDES
sob a determinação do governo federal? Simplesmente concedeu, no período
compreendido entre 2009 a 2014, mais de 3.000 empréstimos — em moeda
estrangeira, em dólares, para ser mais preciso — a outros países cujos valores
não são informados ao contribuinte. Com esses empréstimos cujo prazo de
carência para o seu resgate, taxas de juros etc., não são conhecidos, os países
beneficiados, muitos dos quais governados por notórios ditadores, para citar
alguns, concluíram as seguintes obras aos custos apontados:
Barragem
de Moamba Major em Moçambique – Custo BNDES: US$ 350 milhões;
BRT
(corredores de ônibus) da capital Maputo em Moçambique – Custo BNDES: US$ 180
milhões;
Hidrelétrica
de Tumarim na Nicarágua – Custo BNDES: US$ 343 milhões;
Projeto
Rodoviário Hacia El Norte – Rurrenabaque-El-Chorro (rodovia mais conhecida como
entrada da cocaína) na Bolívia – Custo BNDES: US$ 199 milhões;
Abastecimento
de Água em Lima, no Peru – Custo BNDES: não informado;
Renovação
da rede de gasoduto de Montevidéu no Uruguai – Custo BNDES: não informado;
Via
expressa Luanda-Kifangondo, Luanda, Angola - Custo BNDES: não informado;
Segunda
ponte sobre o rio Orinoco na Venezuela – Custo BNDES: US$ 300 milhões;
Linhas
3 e 4 do Metrô Caracas na Venezuela – Custo BNDES: US$ 732 milhões;
Soterramento
do Ferrocarril Sarmiento na Argentina – Custo BNDES: US$ 1,5 bilhão;
Aqueduto
de Chaco na Argentina – Custo BNDES: US$ 180 milhões;
Autopista
Madden-Colón no Panamá – Custo BNDES: US$ 152,8 milhões;
Metrô
Cidade do Panamá, Panamá – Custo BNDES: US$ 1 bilhão;
Hidrelétrica
de Chaglla no Peru – Custo BNDES: US$ 320 milhões;
Hidrelétrica
de San Francisco no Equador – Custo BNDES: US$ 243 milhões;
Hidrelétrica
Mandariacu no Equador - Custo BNDES: US$ 90 milhões;
Porto
de Mariel em Cuba - Custo BNDES: US$ 682 milhões;
Aeroporto
de Nacala em Moçambique - Custo BNDES: US$ 125 milhões.
Agora, o Senador Álvaro
Dias, por meio de uma ação direta contra a presidente Dilma Rousseff, o
ministro Mauro Borges do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e o presidente
do BNDES, Luciano Coutinho, que propôs no Supremo Tribunal Federal (STF), com
base na Lei de Acesso à Informação, quer que sejam revelados todos os meandros
dos empréstimos de financiamento de obras no exterior, em especial em Cuba,
Venezuela e Angola, para entender por quais motivos, só para citar um exemplo,
São Paulo e Salvador não têm verba para a construção de linhas do metrô e
Caracas tem e com dinheiro do povo brasileiro.
Quem mandou você nascer,
trabalhar e morar aqui! Mude pra Cuba, Venezuela, Angola, Moçambique, Equador,
Bolívia, Peru, Panamá, Argentina, Uruguai ou qualquer outro país onde o governo
aplica e tão bem o nosso suado dinheirinho.
Edição n.º 979 - página 08
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