sábado, 21 de março de 2015

O rico Brasil do BNDES




O povo brasileiro ocupou as ruas para protestar, dentre tantas coisas que faltam para o bem estar de todos (educação, saúde, segurança, moradia, alta dos preços, etc.), mas principalmente contra os escândalos do mensalão, do Petrolão, enfim contra a onda de corrupção que assola o país. Mas pouco se falou com relação ao BNDES, talvez por desconhecimento de transações muito bem guardadas. De “tenebrosas transações” como cantaria Chico Buarque em outra época!
Para quem não sabe, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é uma empresa pública federal, com sede no Rio de Janeiro e cujo principal objetivo é financiar em longo prazo a realização de investimentos em todos os segmentos da economia, de âmbito social, regional e ambiental, tendo autonomia administrativa e personalidade jurídica própria, com seu patrimônio próprio. O que se objetivou com a criação do BNDES foi apoiar empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do Brasil para que, desta ação, resultassem a melhoria da competitividade da economia brasileira e a elevação da qualidade de vida da sua população.
Ocorre que desde que Guido Mantega deixou a presidência do BNDES, em 2006, e se tornou Ministro da Fazenda, no mesmo ano, o BNDES tornou-se peça chave no modelo de desenvolvimento proposto pelo governo. Desde então, o total de empréstimos do Tesouro ao BNDES saltou de R$ 9,9 bilhões — 0,4% do PIB — para R$ 414 bilhões — 8,4% do PIB. Alguns desses empréstimos, aqueles destinados a financiar atividades de empresas brasileiras no exterior, eram considerados secretos pelo banco. Só foram revelados porque o Ministério Público Federal pediu na justiça a liberação dessas informações.
Ora, e o que fez o BNDES sob a determinação do governo federal? Simplesmente concedeu, no período compreendido entre 2009 a 2014, mais de 3.000 empréstimos — em moeda estrangeira, em dólares, para ser mais preciso — a outros países cujos valores não são informados ao contribuinte. Com esses empréstimos cujo prazo de carência para o seu resgate, taxas de juros etc., não são conhecidos, os países beneficiados, muitos dos quais governados por notórios ditadores, para citar alguns, concluíram as seguintes obras aos custos apontados:



Barragem de Moamba Major em Moçambique – Custo BNDES: US$ 350 milhões;
BRT (corredores de ônibus) da capital Maputo em Moçambique – Custo BNDES: US$ 180 milhões;
Hidrelétrica de Tumarim na Nicarágua – Custo BNDES: US$ 343 milhões;
Projeto Rodoviário Hacia El Norte – Rurrenabaque-El-Chorro (rodovia mais conhecida como entrada da cocaína) na Bolívia – Custo BNDES: US$ 199 milhões;
Abastecimento de Água em Lima, no Peru – Custo BNDES: não informado;
Renovação da rede de gasoduto de Montevidéu no Uruguai – Custo BNDES: não informado;
Via expressa Luanda-Kifangondo, Luanda, Angola - Custo BNDES: não informado;
Segunda ponte sobre o rio Orinoco na Venezuela – Custo BNDES: US$ 300 milhões;
Linhas 3 e 4 do Metrô Caracas na Venezuela – Custo BNDES: US$ 732 milhões;
Soterramento do Ferrocarril Sarmiento na Argentina – Custo BNDES: US$ 1,5 bilhão;
Aqueduto de Chaco na Argentina – Custo BNDES: US$ 180 milhões;
Autopista Madden-Colón no Panamá – Custo BNDES: US$ 152,8 milhões;
Metrô Cidade do Panamá, Panamá – Custo BNDES: US$ 1 bilhão;
Hidrelétrica de Chaglla no Peru – Custo BNDES: US$ 320 milhões;
Hidrelétrica de San Francisco no Equador – Custo BNDES: US$ 243 milhões;
Hidrelétrica Mandariacu no Equador - Custo BNDES: US$ 90 milhões;
Porto de Mariel em Cuba - Custo BNDES: US$ 682 milhões;
Aeroporto de Nacala em Moçambique - Custo BNDES: US$ 125 milhões.



Agora, o Senador Álvaro Dias, por meio de uma ação direta contra a presidente Dilma Rousseff, o ministro Mauro Borges do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que propôs no Supremo Tribunal Federal (STF), com base na Lei de Acesso à Informação, quer que sejam revelados todos os meandros dos empréstimos de financiamento de obras no exterior, em especial em Cuba, Venezuela e Angola, para entender por quais motivos, só para citar um exemplo, São Paulo e Salvador não têm verba para a construção de linhas do metrô e Caracas tem e com dinheiro do povo brasileiro.
Quem mandou você nascer, trabalhar e morar aqui! Mude pra Cuba, Venezuela, Angola, Moçambique, Equador, Bolívia, Peru, Panamá, Argentina, Uruguai ou qualquer outro país onde o governo aplica e tão bem o nosso suado dinheirinho.













Edição n.º 979 - página 08

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