“Os marqueteiros do Palácio do Planalto não fizeram
nenhuma pesquisa para saber quantos médicos, nesses dias de revolta, estão
fervendo de indignação; acham que é uma "catarse emocional". Mas o
fato é que milhares de médicos em todo o Brasil estão fartos de aguentar
calados a prodigiosa incompetência, a mentira em massa e a vadiagem dos
responsáveis pela saúde pública brasileira — além de uma ladroagem sem fim na
qual se roubam verbas, ambulâncias, sangue e tudo o mais que pode ser rapado
pelos amigos do PT e da base aliada." (J.R.Guzzo, revista Veja)
Contrariando o parecer de todas as
entidades médicas brasileiras, o governo insiste na proposta de trazer médicos
estrangeiros para cá, sem revalidação do diploma. Mas a Organização Mundial de
Saúde (OMS) afirma haver aqui profissionais suficientes, embora eles se
concentrem nas cidades grandes e haja carência de profissionais tanto nos
bairros mais afastados das grandes metrópoles, como em cidades pequenas ou distantes.
Os médicos preferem instalar-se onde há
mais recursos tecnológicos, maior chance de trabalho e mais apoio logístico,
para não ter de escolher o que e como fazer, na hora da emergência.
Os médicos (alguns usando nariz de
palhaço) protestaram contra os crimes diários que são cometidos pelo governo
federal nos serviços públicos de saúde, que carecem de um mínimo de apoio
técnico complementar, como laboratório, exames de imagem, outros profissionais
em equipe, transporte de pacientes para o hospital regional mais próximo e uma
supervisão competente.
A doutora Juliana Mynssen da Fonseca
Cardoso, cirurgiã-geral no Hospital Estadual Azevedo Lima, no Rio de Janeiro,
fez, pela internet, um contundente relato ("O dia em que a "presidenta"
Dilma em 10 minutos cuspiu no rosto de 370 000 médicos brasileiros"): [...] Nestes últimos dias de protestos nas ruas e nas
mídias, brigamos por um país melhor. Não tenho palavras para descrever o que
penso da "presidenta" Dilma. (Uma figura que se proclama
"presidenta" já não merece a minha atenção.) Mas hoje, por mim, por
você, pelo meu paciente, eu a ouvi. Ela disse que importará médicos para
melhorar a saúde do Brasil... Melhorar a qualidade? Sra.
"presidenta", eu sou uma médica de qualidade. O médico brasileiro é
de qualidade. Os seus hospitais é que não são. O seu SUS é que não tem
qualidade. O seu governo é que não tem qualidade. O dia em que a sra.
"presidenta” abrir uma ficha numa UPA, for internada num hospital
estadual, pegar um remédio numa fila do SUS e falar que isso é de qualidade, aí
conversaremos. Não cuspa na minha cara. Não pise no meu diploma. Não me culpe
por sua incompetência.
E o articulista Merval Pereira (O Globo, 9/7) ironiza a última “proposta” do
governo ─ “essa ideia estapafúrdia de
obrigar os estudantes de Medicina, após seis anos de curso e residência médica,
a trabalhar no SUS, recebendo uma bolsa, para ter o diploma. Em vez de preparar
plano de carreira no serviço público com estímulos a médicos no interior do
país, o governo inventa uma utilização precarizada de médicos iniciantes,
comparada pelas associações médicas a trabalho escravo. Não é a solução para os
anseios populares de uma medicina padrão Fifa”.
Parece que “eles” não entenderam que o principal problema da saúde
pública no Brasil é o baixo investimento estatal e não a falta de profissionais...
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