Esse título foi emprestado de
uma crônica de Vinícius de Morais. Da primeira, que foi publicada em “A Manhã”,
em 1946. Ele foi poeta, crítico de cinema, músico, diplomata. Como está escrito
em um trecho de sua biografia, “ao falecer, em 1980, Vinícius de Morais deixou
uma grande lacuna em nossa vida cultural.”
Assim começa: “Creio
firmemente que o confinamento em si mesmo, imposto a toda uma legião de
criaturas pela guerra, é dinamite se acumulando no subsolo das almas para as
explosões da paz. No seio mesmo da tragédia sinto o fermento da meditação
crescer. Não tenho dúvida de que poderosos artistas surgirão das ruínas ainda
não reconstruídas do mundo, para cantar e contar a beleza de reconstruí-lo
livre.”
Só mesmo um poeta poderia olhar o mundo desta
maneira! Por isso, mais à frente ele afirmou no texto que “Só a poesia pode
salvar o mundo de amanhã”. Se considerarmos que essa afirmação foi feita em
1946, hoje é o amanhã ao qual ele se referiu.
Sabemos que estamos em um tempo de guerras. E não
é preciso viver no Oriente Médio para vivenciá-las. Lá é muito mais complicado
em vários aspectos, mas se pararmos para pensar, quantas são as guerras que têm
causado destruição no Brasil?
A “guerra do trânsito” mata, por ano, mais do que
muitos dos conflitos internacionais mais conhecidos. A “guerra do narcotráfico”
mata famílias inteiras, de um jeito ou de outro. A “guerra da beleza a qualquer
preço” vitima antes a auto-estima, para depois consumir recursos e vitalidade,
literalmente matando de fome. A “guerra da economia capitalista” mata de subnutrição
física e intelectual. A “guerra dos fast foods” frutos da mesma economia
capitalista, em contrapartida, mata de obesidade mórbida por todo o mundo, até
nos países mais desenvolvidos como os Estados Unidos. A “guerra da
intolerância” segrega e mata ideais, o respeito, a honra.
São muitas as guerras. Tantas, que nem dá para
mencionar todas. Seriam necessárias muitas páginas! Só mesmo um poeta vislumbra
o melhor do ser humano, aquilo que surge dos piores conflitos, das piores
circunstâncias! E essa é uma grande verdade. Muita coisa boa acontece depois de
grandes crises, depois de tragédias inesperadas. Deve ser assim que melhor se
manifesta a compaixão de Deus pelos seres humanos – através da poesia, da fé,
da esperança, da tenacidade, da perseverança.
Realmente, só a poesia pode nos salvar. Ela nos
conforta, acalenta, nutre. Também instiga e impulsiona. E, para quem acha que
não gosta de poesia, basta pensar um pouco. Tem uma música predileta? Todo
mundo tem uma. Na verdade, tem muitas... Penso que a música é poesia com som.
Poesia dobrada, multiplicada.
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