sexta-feira, 5 de julho de 2013

A TRANSFIGURAÇÃO PELA POESIA





                   Esse título foi emprestado de uma crônica de Vinícius de Morais. Da primeira, que foi publicada em “A Manhã”, em 1946. Ele foi poeta, crítico de cinema, músico, diplomata. Como está escrito em um trecho de sua biografia, “ao falecer, em 1980, Vinícius de Morais deixou uma grande lacuna em nossa vida cultural.”
                   Assim começa: “Creio firmemente que o confinamento em si mesmo, imposto a toda uma legião de criaturas pela guerra, é dinamite se acumulando no subsolo das almas para as explosões da paz. No seio mesmo da tragédia sinto o fermento da meditação crescer. Não tenho dúvida de que poderosos artistas surgirão das ruínas ainda não reconstruídas do mundo, para cantar e contar a beleza de reconstruí-lo livre.”
                   Só mesmo um poeta poderia olhar o mundo desta maneira! Por isso, mais à frente ele afirmou no texto que “Só a poesia pode salvar o mundo de amanhã”. Se considerarmos que essa afirmação foi feita em 1946, hoje é o amanhã ao qual ele se referiu.
                   Sabemos que estamos em um tempo de guerras. E não é preciso viver no Oriente Médio para vivenciá-las. Lá é muito mais complicado em vários aspectos, mas se pararmos para pensar, quantas são as guerras que têm causado destruição no Brasil?

                  A “guerra do trânsito” mata, por ano, mais do que muitos dos conflitos internacionais mais conhecidos. A “guerra do narcotráfico” mata famílias inteiras, de um jeito ou de outro. A “guerra da beleza a qualquer preço” vitima antes a auto-estima, para depois consumir recursos e vitalidade, literalmente matando de fome. A “guerra da economia capitalista” mata de subnutrição física e intelectual. A “guerra dos fast foods” frutos da mesma economia capitalista, em contrapartida, mata de obesidade mórbida por todo o mundo, até nos países mais desenvolvidos como os Estados Unidos. A “guerra da intolerância” segrega e mata ideais, o respeito, a honra.

                   São muitas as guerras. Tantas, que nem dá para mencionar todas. Seriam necessárias muitas páginas! Só mesmo um poeta vislumbra o melhor do ser humano, aquilo que surge dos piores conflitos, das piores circunstâncias! E essa é uma grande verdade. Muita coisa boa acontece depois de grandes crises, depois de tragédias inesperadas. Deve ser assim que melhor se manifesta a compaixão de Deus pelos seres humanos – através da poesia, da fé, da esperança, da tenacidade, da perseverança.

                   Realmente, só a poesia pode nos salvar. Ela nos conforta, acalenta, nutre. Também instiga e impulsiona. E, para quem acha que não gosta de poesia, basta pensar um pouco. Tem uma música predileta? Todo mundo tem uma. Na verdade, tem muitas... Penso que a música é poesia com som. Poesia dobrada, multiplicada. 

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