“A presidente Dilma, que anda em fase de paz e amor, não
abre mão de fazer o diabo na pré-campanha eleitoral antecipada, aliás, por ela
mesma. Na hora do expediente, reuniu-se com seu mentor e mais conselheiros
políticos, como o ex-ministro Franklin Martins e o 40º ministro, o marqueteiro
João Santana, para discutir a corrida presidencial. Não deveria ser assim, mas,
no Brasil, nada que é impedido por lei deixa de ser feito, pois as sanções
pecuniárias são ridículas, e as morais já há muito não fazem mais efeito em
nossos políticos.” (Merval Pereira, O
Globo, 11/10)
Em reportagem da última 4ª-feira na Folha de S.Paulo, os articulistas
constataram que, neste ano pré-eleitoral, a presidente e pré-candidata à reeleição
passou 51 dias em deslocamentos pelo país, com agendas repetidas e entrega de
moradias.
O governo federal tem focado as cerimônias de viagens em ações de
alcance local, priorizando moradias, formaturas de escolas técnicas (como as do
Pronatec, programa de ensino profissionalizante do governo, vendido como
"porta de saída" do Bolsa Família, por oferecer cursos aos beneficiários
do programa) e distribuição de retroescavadeiras e outras máquinas a prefeitos.
Isso porque não tem obras de impacto para
entregar, já que “vitrines” como ferrovias e transposição do rio São Francisco
continuam muito longe das metas iniciais, segundo aquela reportagem.
Nesta semana, em Vitória da Conquista (BA), a
presidente participou de um evento para entrega de 1.740 moradias (ainda que
sem infraestrutura completa) do “Minha Casa Minha Vida”. De acordo com o
governo baiano, dessas 1.740 unidades entregues, mesmo todas já com os novos
moradores, apenas 378 têm energia elétrica e água encanada nas torneiras!
Os restantes 1.362 beneficiários passam as
noites à luz de velas, usam baldes com água trazida de outros locais e contam
com ajuda desses vizinhos que já têm água e luz em suas casas (portanto, nada
tão colorido ou alegre como a ilustração anexa sugere).
A escritora, ensaísta e membro da Academia Brasileira de
Letras Rosiska Darcy de Oliveira comentou no jornal O Globo (12/10) que, “no nosso triste
país das condenações embargadas, das candidaturas proibidas, da política
desgastada, impõe-se uma interrogação: será a esperança, aqui, o fantasma que
morre sempre ao amanhecer ou ainda encontrará encarnação no dia a dia das
pessoas honestas e solidárias? E ressurge um velho enigma: no mundo de hoje, o
que é, onde está, para que serve o poder?”
Sim, será que o poder só serve
para essa fabulação, que tira moradias incompletas de uma caixinha de
surpresas, como uma farsa de atendimento aos anseios da população?
Ou não será tudo isso uma
enganação em tempo de paz e amor?
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