“A terapia comunitária propõe que a partir
de suas vivências, o indivíduo crie habilidades e condições de superar os
problemas. É a terapia que deve promover o resistir, o retirar-se do problema.”
Participei de uma sessão de terapia
comunitária, coordenada por Élida Maria Espontão Castanho.
Depois de longa experiência com assistência
social, Élida procurou novas técnicas para o trabalho de orientação de pessoas
com entraves no relacionamento dentro do contextos em que vivem, o que envolve
família, amigos e estranhos.
Somos parte de um todo.
Na teoria da linha sistêmica, que entende as
pessoas como uma organização que não
vive isolada, Élida descobriu a importância da conversa reflexiva, em que todos
escutam todos.
Formação
Isto
exigiu estudos, estágios e mais conhecimentos sobre as inter-relações pessoais,
para poder promover o espaço de escuta e conversa.
Diferenças não apartam as
pessoas
Constatei
que a terapia comunitária é o espaço da
conversa, da escuta do outro, no qual cada
um coloca seu problema sem julgar se o problema vivido é pequeno ou grande
perante o do outro. Cada problema é proposto como “próprio”, e não o “nosso’,
ou o “da gente”.
Identificando as diferenças, a conversa
reflexiva leva as pessoas a entenderem que as diferenças não constituem motivos
para apartarem os diferentes.
Elimina-se o “ou” como eu quero “ou” como
você quer.
Instala-se a coerência do “e” você “e” eu
vamos formar um organismo social.
Ninguém é, mas pode estar!
Observei que na proposta da terapia comunitária,
o terapeuta não dá receitas nem indica credos ou remédios.
No desenvolvimento da conversa destaca-se a
substituição da expressão “fulano é” por “fulano está”.
Isso muda completamente a perspectiva de um
fechamento para uma abertura de entendimento.
Porque, por exemplo, se uma pessoa está
ciumenta ao invés de ser ciumenta, isso que dizer que ela não está isolada ou
sozinha, e sim que, no momento, ela tem um problema na relação com alguém. O
foco passa a ser o da relação.
E a reflexão terapêutica vai contribuir para
um provável entendimento das causas de inquietações e desconfianças.
Narrando e escutando
Na
terapia comunitária, o terapeuta-coordenador sugere que todos coloquem seu
problema prioritário e, após a exposição
de todos os participantes, o próprio grupo escolha o tema – problema do
encontro.
A justificativa da Élida é que à medida que uma pessoa faz a narrativa de seu
interesse, o narrador é o primeiro a se escutar e perceber que ele não está
isolado do corpo social, porque os outros estão atentos ao seu problema.
A terapia comunitária é aberta e o terapeuta
não faz análise. Ele é apenas um
facilitador da conversa reflexiva.
É ali que surge o conhecimento de cada um a
partir de sua própria vivência e não de um discurso pré-elaborado.
Ninguém fica na dependência de outro.
Cria-se uma nova visão.
A música
“Mas
acima de tudo e apesar de me expor, aprendi que para esse problema eu mesmo é
que sou doutor”.
Este verso criado por Fernando Kachan,
membro do grupo, foi musicado por Onivaldo Fornaro, outro participante.
Percebe-se, assim que a terapeuta contou com a contribuição voluntária de
vários participantes. Dessa maneira, com a moldura musical, os encontros se
tornam mais agradáveis, de acordo com o filósofo Nitzsche, que afirmava que
“sem música a vida seria insuportável”.
Esta foi uma reportagem especial, porque
participei da minha primeira sessão de terapia comunitária. Saí mais aliviado
comigo mesmo.
Texto Tom Santos |
Cumprimento a Élida
por seus dez anos de missão
tão importante.
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