A
presidente Dilma Rousseff ficou indignada — e não lhe tiro a razão — por ter
tido conhecimento das denúncias de que a inteligência dos Estados Unidos, a
NSA, monitorou seus telefonemas, e-mails e mensagens de celular. Por ocasião da
reunião da cúpula do G20, recentemente ocorrida na Rússia, a presidente
brasileira depois de se reunir com o presidente americano Barack Obama, e dele
ouvir uma promessa de explicações, condicionou sua visita a Washington, a uma
resposta mais objetiva e clara. Só para esclarecer, o G-20 é um fórum informal que
conta com a participação de Chefes de Estado, Ministros de Finanças e
Presidentes de Bancos Centrais, com o objetivo de cuidar mais adequadamente da
diversidade de interesses das economias industrializadas e emergentes, que
conta com 19 países (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina,
Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, França, Índia, Indonésia,
Itália, Japão, México, Rússia, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos) e uma
representação da União Europeia.
Essas
revelações de espionagem causaram mal-estar na relação bilateral Brasil-Estados
Unidos e terminaram por azedar a visita de Estado que a presidente brasileira iria
fazer aos EUA neste mês, não havendo confirmação de nova data para essa viagem oficial.
O
ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, classificou o
episódio como "uma inadmissível e inaceitável violação da soberania
brasileira" e pediu "explicações formais por escrito" — ainda
que cheio de dedos quanto a eventuais retaliações brasileiras.
A
assessoria do vice-presidente americano, Joe Biden, por seu turno, afirmou que
os EUA "continuarão a trabalhar com as autoridades brasileiras" para
explicar as denúncias de espionagem e agregou que "o convite para a visita
de Estado da presidente Rousseff reflete o interesse dos EUA em aprofundar esse
relacionamento vital". A Casa Branca divulgou uma nota protocolar,
prometendo atenuar os excessos das atividades de inteligência. Espionar só para
treinar, como foi o caso com a presidente Dilma, nem mais pensar...
Exigir
mais do que isso e pretender colocar em xeque as relações entre Brasil e
Estados Unidos, não é, por certo, do interesse do Brasil. E também pelo fato de
que tal atitude não daria em nada.
De
qualquer forma, como a presidente Dilma disse na Rússia, com o seu peculiar e
ininteligível vocabulário: “Eu disse a Obama que era claro que ele sabia que,
depois que a pasta de dente sai do dentifrício, ela dificilmente volta para
dentro do dentifrício. E ele me disse que faria todo o esforço político para
que essa pasta pelo menos não ficasse solta por aí e voltasse uma parte para
dentro do dentifrício”.
A
presidente produziu em “dilmês” um verdadeiro e fascinante mistério
linguístico: usou em português duas palavras que querem dizer a mesma coisa
(pasta de dentes e dentifrício), mas desejando dizer coisas distintas, ou seja,
o creme e seu tubo, conteúdo e continente. A presidente brasileira querendo
afirmar uma coisa, disse outra, ou melhor, a mesma coisa. Não sei como o intérprete
traduziu isso para o presidente Obama, posto que, em inglês, as palavras também
são sinônimos perfeitos – toothpaste e dentifrice. Um não pode sair de dentro
do outro. Conseguiu o heroico tradutor, fazendo o caminho linguístico inverso,
introduzir o tubo na pasta, para que a metáfora de Dilma fizesse algum sentido
para Obama?
A
propósito, quanta bobagem!... Convenhamos, uma pessoa que não sabe que
dentifrício não é o tubo de pasta de dentes, mas o próprio creme dental,
definitivamente não pode sequer ser síndica de condomínio. O certo é que, ainda
que querendo afirmar outra coisa, a presidente Dilma passou a mensagem de que tudo
continuará como dantes no quartel de Abrantes.
É
ou não é profundamente lamentável cidadão brasileiro?
Parabéns, Dr. Vilela, por mais este serviço prestado, à nós, leitores...
ResponderExcluirPena que, 99% (estou sendo otimista!) dos eleitores dessa peça rara da inteligência, não tomará conhecimento da pérola por ela proferida na Rússia!
Tomo a liberdade de citar Ucho Haddad, a cerca desse episódio:
"...O mais bizarro, Dilma, é imaginar a pasta de dente saindo do dentifrício. Na seara da Física isso é inimaginável, mas não deve demorar muito para algum amestrado do seu partido, que recebe só para bater palma para maluco dançar, indicar o seu nome para algum dos tantos prêmios Nobel. Até porque, se Lula tornou-se doutor honoris causa por destruir a economia verde-loura, você deve ser condecorada por ter descoberto que a pasta de dente é a alma do dentifrício que vaga por aí..."
Seria cômico se não fosse trágico...
"Prezada Rosa Maria, você tem razão. Mas fazer o quê? Só posso agradecer pela sua contribuição, trazendo a citação de Ucho Haddad, que só agrega ao que escrevi, além do seu sempre oportuno e feliz comentário. Forte abraço. Vilela".
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