Mantendo a tradição de falar sobre variações em
torno do tema “Paixão”, na Semana Santa, esta edição de NOTÍCIAS
reflete sobre o que é a “Paixão” para milhares de brasileiras
estupradas, usando como ilustração a autoexplicativa fotomontagem da capa do
caderno Aliás (O Estado de S.Paulo, 6/4, E1).
Nessa imagem, estão incluídas as fotos de uma
infeliz vítima real e a de várias potenciais; a de um homem que “tem vergonha
de, sendo homem, ter de dizer algo tão óbvio como: Nenhuma mulher merece ser
estuprada”; e até a de uma mulher transsexual.
No Brasil, ocorrem anualmente meio milhão de
estupros e violência contra a mulher. Meio milhão notificado, isto é, cerca de
1.400 por dia. Mas isso corresponde a apenas 10% que se sabe serem notificados:
multiplicando-se esse número por 10 (para incluir os casos não notificados)
chega-se a 14 mil estupros e violência diários.
A socióloga e pesquisadora Fátima Pacheco Jordão
diz que “o fenômeno está no centro do machismo, não na beirada da patologia.
Está no eixo da cultura patriarcal, não é ponta de curva. É o controle no
limite físico da mulher – ou por agressão ou por estupro” (O Estado de
S.Paulo, 6/4, E2).
Nas redes
sociais, a campanha #EuNãoMereçoSerEstuprada continua, em meio a ameaças,
intolerância e uma contínua onda de abusos contra mulheres, tanto em casa (por
maridos, pais, parentes ou conhecidos próximos), como na rua, nos
estacionamentos, nos trens e nos metrôs.
A mulher
continua a ser forçada e violentada, real e virtualmente.
Até quando?
Embora (no
mundo ocidental, pelo menos) as mulheres tenham se libertado e liberado em
todos os aspectos, parece inacreditável que hoje, como desde os primórdios dos
tempos, a opressão do corpo feminino pela força bruta ainda seja uma arma para
subjugar, humilhar, vilipendiar, submeter, apavorar, torturar.
Até quando
durará essa “Paixão” diária?
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