sexta-feira, 25 de abril de 2014

A presidenta não “ponhou o recado na porta”



O governo Dilma tem medo de sincericídio. Em nenhum momento a presidente e seus ministros são capazes de admitir que falharam e que corrigirão os erros. Não entendem que ao menos devem "ponhar um recado na porta", como o Arnesto (do samba de Adoniran Barbosa), que também assumiu compromissos e não cumpriu o prometido.” (Celso Ming, O Estado de S.Paulo, 24/4, B2)




Seria o neologismo criado pelo articulista do Estadão uma combinação de “sinceridade”     e “suicídio”, traduzindo medo de suicídio político causado pela eventual sinceridade das declarações?
De qualquer modo, como a presidente/a e seus ministros não “ponharam um recado na porta”, reconhecendo que falharam ao assumir compromissos que não conseguiram cumprir, como prometido, isso dá ensejo a outros comentários.
A respeito do emprego da forma de tratamento “presidenta”, por exemplo, que alguns julgam ser errada, enquanto outros admitem também ser correta, como ilustrado pela charge do Maurício de Souza.
A professora Miriam Rita Moro Mine, da Universidade Federal do Paraná, esclarece que no português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Assim, o particípio ativo do verbo atacar é atacante; de pedir é pedinte; de cantar é cantante; de existir é existente; de mendicar é mendicante... Diz-se: capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; adolescente, e não "adolescenta";  paciente, e não "pacienta"; elegante, e não "eleganta"; representante, e não "representanta"; dirigente, e não "dirigenta"; contente, e não “contenta"... Portanto, a pessoa que preside é presidente, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha.
No entanto, tal posição não é livre de polêmica e/ou discordância, nem é aceita tão facilmente. Diogo Arrais, professor de Língua Portuguesa do Damásio Educacional, diz que existem as duas formas, registradas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, no dicionário Houaiss, no Aurélio e em outros. É interessante notar a existência de “presidenta”, desde 1899, no dicionário de Cândido de Figueiredo: "Presidenta, f. (neol.) mulher que preside; mulher de um presidente. (Fem. de presidente.)"
Língua é uso, e reflete uma série de aspectos sociais. No Brasil, a chegada da primeira mulher ao cargo de presidente da República é símbolo desses novos tempos democráticos; talvez, por isso, o Planalto faça uso da forma “presidenta”, nos atos e comunicações oficiais. O uso não corresponde a uma invenção de Dilma Rousseff, conclui o professor.

A escolha da forma “presidente” ou “presidenta” é, portanto, apenas uma questão sonora e pessoal a ser usada segundo o próprio gosto por autoridades, jornalistas, escritores ou chargistas.

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