“O governo Dilma tem medo
de sincericídio. Em nenhum momento a presidente e seus ministros são capazes de
admitir que falharam e que corrigirão os erros. Não entendem que ao menos devem
"ponhar um recado na
porta", como o
Arnesto (do samba de Adoniran Barbosa), que também assumiu compromissos e não
cumpriu o prometido.” (Celso Ming, O Estado de S.Paulo, 24/4, B2)
Seria o neologismo criado pelo articulista do Estadão
uma combinação de “sinceridade” e
“suicídio”, traduzindo medo de suicídio político causado pela eventual
sinceridade das declarações?
De qualquer modo, como a presidente/a e seus ministros
não “ponharam um recado na porta”, reconhecendo que falharam
ao assumir compromissos que não conseguiram cumprir, como prometido, isso dá
ensejo a outros comentários.
A respeito do emprego da forma de tratamento
“presidenta”, por exemplo, que alguns julgam ser errada, enquanto outros
admitem também ser correta, como ilustrado pela charge do Maurício de Souza.
A professora Miriam Rita Moro Mine, da Universidade
Federal do Paraná, esclarece que no português existem os particípios ativos
como derivativos verbais. Assim, o particípio ativo do verbo atacar é atacante;
de pedir é pedinte; de cantar é cantante; de existir é existente; de mendicar é
mendicante... Diz-se: capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz
estudante, e não "estudanta"; adolescente, e não
"adolescenta"; paciente, e não
"pacienta"; elegante, e não "eleganta"; representante, e
não "representanta"; dirigente, e não "dirigenta";
contente, e não “contenta"... Portanto, a pessoa que preside é presidente,
e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha.
No entanto, tal posição não é livre de polêmica e/ou
discordância, nem é aceita tão facilmente. Diogo Arrais, professor de Língua Portuguesa do Damásio
Educacional, diz que existem as duas formas, registradas no Vocabulário
Ortográfico da Língua
Portuguesa, no dicionário Houaiss, no Aurélio e em outros. É interessante notar
a existência de “presidenta”, desde 1899, no dicionário de Cândido de
Figueiredo: "Presidenta, f. (neol.)
mulher que preside; mulher de um presidente. (Fem. de presidente.)"
Língua é uso, e reflete uma série de aspectos sociais. No Brasil, a
chegada da primeira mulher ao cargo de presidente da República é símbolo desses
novos tempos democráticos; talvez, por isso, o Planalto faça uso da forma
“presidenta”, nos atos e comunicações oficiais. O uso não corresponde a uma
invenção de Dilma Rousseff, conclui o professor.
A escolha da forma “presidente” ou “presidenta” é, portanto, apenas
uma questão sonora e pessoal a ser usada segundo o próprio gosto por
autoridades, jornalistas, escritores ou chargistas.
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