sexta-feira, 4 de abril de 2014

Por que terceirizamos nossas responsabilidades?




Quantas lutas entre o bem e o mal! Um defendendo a felicidade do homem e  outro tentando desviá-lo de sua senda de viver como filho de Deus.
Com o entendimento primário em relação aos aspectos antagônicos do bem e do mal, a impressão que o homem mantinha como verdadeira era de que ambos os sentimentos encontravam-se fora de sua realidade íntima. Tanto é que criamos figuras tenebrosas para representar o mal. Algumas meio homem e meio animal, que na tentativa de nos seduzir faziam-nos de joguetes quando  caíamos  em suas fantasiosas garras.
Pela lei divina, porém, por ser dotado de potencialidades para o bem, o homem, de forma intuitiva,  não podia admitir que tivesse dentro de si algo que pudesse ser contrário àquilo que é da sua própria natureza. Afinal, como criaturas, somos filhos de Deus, herdando na relatividade os atributos do Criador. Logo, seria inadmissível  termos  atitudes contrárias à nossa  essência, pois se o ser  em-si é bom, não poderia equivocar-se e praticar o mal. Foi por conta dessa postura, talvez, que resolvemos terceirizar as nossas responsabilidades.
O demônio, ou Lúcifer, Satanás e tantas outras definições ainda são  utilizados por uma boa parcela da humanidade para justificar o mal, sendo o ‘terceiro’ responsável, que busca incansavelmente tirar as criaturas do bom caminho, para se realizar com a infelicidade delas.
Chegou-se mesmo a admitir-se  que o Criador disputava poder com o demônio,  criatura aliás que só poderia ter sido criada por Ele  como alguém infeliz desgarrado de seu rebanho, um verdadeiro anjo decaído. Ora, Deus sendo único e perfeito lutaria contra o demônio, que passou a ter status de divindade e poder semelhante ou igual a Ele.
Quando mais experientes e conscientes em relação aos enganos dessa natureza, entendemos que essas figuras folclóricas serviram para uma época, ou ainda servem para parte da população do planeta em função de sua insistência em terceirizar o mal,  hábito de muitos, traduzido em desculpismos infantis. São famosas as justificativas, tais como: sou assim por culpa do meio em que vivo; costumo agir dessa forma porque todo mundo age assim; cansei de ser bom; vivo dessa maneira por responsabilidade dos outros...
É a velha fuga, porta fácil da irresponsabilidade que aos poucos foi criando insensatos, os cegos que não querem ver, conforme o alerta de Jesus.
Na realidade, é a ignorância ao direito do outro que produz o mal dentro de nós mesmos e se espalha no coletivo. O egoísmo é a mola propulsora que faz e mantém aberta as nossas feridas, às quais por nossos interesses mesquinhos acabamos por não permitir a devida e natural  cicatrização.
Emmanuel, na psicografia de Francisco Cândido Xavier, ensina com sabedoria a respeito do bem e do mal, simplificando para o nosso entendimento e desmontando as estruturas viciosas da transferência para o outro. Diz ele: “o bem é quando é bom para mim e para os outros e o mal, quando é bom só para mim.”
Fica assim evidenciado que o cultivo do egoísmo, em detrimento do direito e felicidade de nossos semelhantes, mesmo que trazendo ilusoriamente nossa felicidade, é a representação do mal.
Por isso, a enfermidade nos acompanha há tanto tempo. Somos enfermos de nós mesmos, porque nos viciamos em nós e não transpusemos as barreiras para o relacionamento fraterno com o outro. Vivendo com justificativas para o comportamento ególatra, permitimos que as diferenças se acentuassem, em torno da etnia, credo, cor, posição social, entre outras.
É preciso que trabalhemos nossos pontos de vista em relação não somente ao outro, mas principalmente a nosso respeito, dentro da lição clara de Jesus de que deveríamos fazer a ele aquilo que gostaríamos dele receber.
Dessa forma, as mudanças para melhor que aguardamos em nossa presente morada deixam de ser responsabilidades alheias e passam a ser assumidas por nós, na exata conscientização de nossos compromissos conosco e com o semelhante.

“As mudanças que aguardamos em nossa presente morada deixam de ser responsabilidades alheias e passam a ser assumidas por nós”




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