Neste ano percebemos que os protestos
populares de 2013 não se repetiram com a mesma intensidade, mas aqui e ali
acontecem manifestações pontuais que nos fazem pressentir uma Copa do Mundo
agitada, ao menos fora do campo.
De lá para cá, muita coisa aconteceu. Da
maciça presença do povo nas ruas no ano passado, reclamando dos serviços
públicos, da corrupção, dos partidos, dos governos, dos políticos, até as
mobilizações de agora organizadas por classes trabalhadoras específicas — como
os garis, no Rio de Janeiro e os caminhoneiros do Ceagesp, em São Paulo — e por
centrais sindicais, como ocorrido em 9 de abril, constatamos que o Brasil tem
duas situações de ordem prática para serem resolvidas. De um lado, há uma
polícia de gritante despreparo para lidar com o povo que quer reivindicar
legítima e democraticamente; de outro lado, grupos protagonizados pelos black blocs, os vândalos de máscaras que
têm por objetivo tão-somente a depredação pela depredação.
E onde fica o manifestante pacífico? Por
certo, encurralado entre a polícia e os arruaceiros, que já contam com algumas
mortes nas costas.
A morte do cinegrafista Santiago Andrade, da
TV Bandeirantes, alvejado por um rojão enquanto cobria uma manifestação em
frente à Central do Brasil, no Rio de Janeiro, teve ampla repercussão na mídia.
Mas outras mortes passaram despercebidas, como por exemplo, a morte de Cleonice
Vieira de Morais, intoxicada por gás lacrimogêneo lançado pelo Polícia Militar
em Belém do Pará; a do estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, atropelado por
um carro que furava o bloqueio humano em Ribeirão Preto; do ator Fernando da
Silva Cândido, no Rio de Janeiro, em decorrência da inalação de gás
lacrimogêneo, dentre outras.
O protesto é e será sempre legítimo e mostra
o amadurecimento da consciência política do cidadão. Mas uma coisa é protestar,
outra é depredar.
O clima é de insatisfação política e não de
revolta. E essa insatisfação é incentivada, ampliada, pela Copa do Mundo. As
pessoas não querem derrubar o governo, como na Ucrânia. Querem exercer apenas o
seu direito de protestar para serem ouvidas pelo governo que parece cada vez
mais surdo!...
E com a proximidade da Copa as autoridades
estão em alerta máximo. O ministro da Justiça e os Secretários de Segurança Pública
de São Paulo e do Rio de Janeiro chegaram a alguns pontos consensuais com
relação ao tratamento que será dado aos protestos de rua, onde haverá a
proibição do uso de máscaras em manifestações, regras unificadas para todas as
polícias, a permissão para que policiais detenham antes de protestos aqueles
que portem armas brancas, como paus e pedras.
De qualquer forma, estima Guaracy Minguardi,
da Fundação Getúlio Vargas, especialista em segurança pública e análise
criminal, que os protestos durante a Copa do Mundo não serão tão radicalizados
quanto se cogita. Afirma essa autoridade que “a coisa amainou, mas se a polícia
exagerar vai pegar fogo”.
O importante é que a polícia e os mascarados
não destruam os movimentos genuinamente populares. Que o povo possa se
manifestar livremente... E oremos para que o governo, do alto da sua pseudo
infalibilidade e imensa prepotência, ouça!
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