sexta-feira, 23 de maio de 2014

Vibrante Jair Rodrigues*



O salão de festas da Fonte Santa Tereza, de Valinhos, estava superlotado.
Foi a noite beneficente que a Coca Viscardi organizou em prol da Santa Casa de Valinhos.
Quando o apresentador Roque Palácio anunciou a surpresa da noite, a presença de Jair Rodrigues, começou a euforia!
Durante uma hora e meia, o serelepe Jair despertou todos com a costumeira alegria de suas interpretações! Ele relembrou o sucesso que fez com seu rapDeixe que digam, que pensem, que falem... Eu não tô fazendo nada, você também...
E todos passearam com Jair pelas “tristes madrugadas”, visitaram “casa de bamba”, espantaram a “tristeza”, se ufanaram no “orgulho de um sambista”, compararam o destemor em “casa de bamba”, lembraram do feliz momento em que “eu sonhei que tu estavas tão linda”, relembraram amores com “carinhoso”, exaltaram “a majestade, o sabiá” enalteceram a viola com “ponteio”, seguiram cantando pela trilha do sertão em “disparada”...
Jair esticou o palco, estendendo-o até o final do salão, onde mais de 600 pessoas se deixaram envolver com sua descontração e entusiasmo.
Jair deitou alegria e fez rolar emoções brincando num “samba japonês” e na música “Pavaroteana”, com sotaque ítalo-caipira!
Sem apelação, sem a famigerada “mula-pocotó”, Jair cantou, brincou e tirou todo mundo do sério! E o espaço foi pequeno para a dança de tantos pares!
No final, o mago Jair encerrou a sua apresentação cantando, com todos, os principais sucessos de Adoniran Barbosa!
Antes de sua apresentação, Jair Rodrigues atendeu à reportagem de NOTÍCIAS e contou que nasceu em Igarapava, SP. Em 1939, e ainda criança seus pais se mudaram para Nova Europa, SP. Foi onde ele iniciou o aprendizado musical, no coral da Igreja Católica. Em 1950, participou de um programa de calouros na Rádio São Carlos. Falando com muito entusiasmo, o igarapense revelou que foi criado acostumando os ouvidos com as músicas de Luiz  Gonzaga, Sílvio Caldas, Chico Alves, Ciro Monteiro, Ângela Maria, Elizete Cardoso...
NOTÍCIAS – Jair, antes de ser cantor, você teve alguma profissão?
- Sim. Fui alfaiate em São Carlos. E como a minha próxima parada foi Osasco,SP, lá costurei muitas calças.
NOTÍCIAS – E quando você começou a cantar profissionalmente?
- Antes de gravar o primeiro disco, em 1960, cantei muito na noite de São Carlos e Osasco. Era época de glória de Altemar Dutra, Simonal, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Clara Nunes, Simone...
NOTÍCIAS – Quem lhe preparou para a carreira profissional do disco?
- Era uma casa noturna de São Paulo, onde era “crooner”, fiquei conhecendo a dupla Venâncio e Corumbá, que na época fazia sucesso com “Sé deixo meu cariri...” Eles me lapidaram. E, em 1962 me levaram para gravar. Hoje, tenho 41 anos como profissional de gravação!
NOTÍCIAS – Naquele tempo de início de carreira artística profissional, que rádios você ouvia?
- No interior eram as rádios Tamoio e Nacional. Em Sâo Paulo, eram Gazeta, Bandeirantes e Record.
NOTÍCIASPor que a sua interpretação de “Disparada” de Vandré e Theo, fez tanto sucesso?
- Vivíamos uma época de repressão e, para não dar a impressão de que era música de protesto, procurei dar uma interpretação no estio sertanejo.
NOTÍCIAS – Você já tem filhos despontando na carreira musical, e com muito sucesso...   
- Graças a Deus meus filhos, Jair Oliveira e Luciana Melo, já estão com suas carreiras-solo em franco desenvolvimento.
NOTÍCIAS – Até que ponto você exerceu influência na definição da carreira de seus filhos?
- Assim como a minha mãe, Conceição, me incentivava no início de minha carreira de cantor, devo ter feito o mesmo com eles, porque lá em casa vivemos muito agarradinhos.
NOTÍCIAS – Você conviveu com Adoniran Barbosa?
- Conheci Adoniran e os Demônios da Garoa no final da década de 1950 em São Paulo, quando reinavam Izaurinha Garcia, Agostinho dos Santos, Paulo Vanzolini... Tudo gente que cantava a autêntica música paulista! Que saudades também do seresteiro Maurici Moura!
NOTÍCIAS – Fale de Elis Regina.
- Me encontrei com Elis em 1965, no “Fino da Bossa”. E o Adoniran participou muitas vezes desse nosso programa, na TV Record. Adoniran foi um companheirão extraordinário, figura maravilhosa! Quando a gente se refere à música de São Paulo, ninguém pode deixar de citar o grande Adoniran. Freqüentei muitas vezes a lanchonete da Record, e lá conversei muito com ele.
NOTÍCIAS – Jair, qual sua mensagem para os novos cantores e músicos que vem por aí?
        - Meninada, já atravessei seis gerações e confio nas que virão. Continuem desenvolvendo suas bandas de garagem!

Foi preciso interromper a nossa entrevista porque o inquieto Jair Rodrigues veio em missão especial para distribuir sua alegria contagiante.
E o salão da Fonte Santa Tereza estava lotado, esperando-o.
E certamente não perdeu por esperar!


*(entrevista publicada no jornal NOTÍCIAS DE VALINHOS em 14 de março de 2003)


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