O salão de festas da Fonte
Santa Tereza, de Valinhos, estava superlotado.
Foi a noite beneficente que
a Coca Viscardi organizou em prol da Santa Casa de Valinhos.
Quando o apresentador Roque
Palácio anunciou a surpresa da noite, a presença de Jair Rodrigues, começou a
euforia!
Durante uma hora e meia, o
serelepe Jair despertou todos com a costumeira alegria de suas interpretações! Ele
relembrou o sucesso que fez com seu rap
“Deixe que digam, que pensem, que
falem... Eu não tô fazendo nada, você também...”
E todos passearam com Jair
pelas “tristes madrugadas”, visitaram
“casa de bamba”, espantaram a “tristeza”, se ufanaram no “orgulho de um sambista”, compararam o
destemor em “casa de bamba”,
lembraram do feliz momento em que “eu
sonhei que tu estavas tão linda”, relembraram amores com “carinhoso”, exaltaram “a majestade, o sabiá” enalteceram a
viola com “ponteio”, seguiram
cantando pela trilha do sertão em “disparada”...
Jair esticou o palco,
estendendo-o até o final do salão, onde mais de 600 pessoas se deixaram
envolver com sua descontração e entusiasmo.
Jair deitou alegria e fez
rolar emoções brincando num “samba japonês”
e na música “Pavaroteana”, com
sotaque ítalo-caipira!
Sem apelação, sem a
famigerada “mula-pocotó”, Jair
cantou, brincou e tirou todo mundo do sério! E o espaço foi pequeno para a
dança de tantos pares!
No final, o mago Jair
encerrou a sua apresentação cantando, com todos, os principais sucessos de
Adoniran Barbosa!
Antes de sua apresentação, Jair
Rodrigues atendeu à reportagem de NOTÍCIAS e contou que nasceu em
Igarapava, SP. Em 1939, e ainda criança seus pais se mudaram para Nova Europa,
SP. Foi onde ele iniciou o aprendizado musical, no coral da Igreja Católica. Em
1950, participou de um programa de calouros na Rádio São Carlos. Falando com
muito entusiasmo, o igarapense revelou que foi criado acostumando os ouvidos
com as músicas de Luiz Gonzaga, Sílvio
Caldas, Chico Alves, Ciro Monteiro, Ângela Maria, Elizete Cardoso...
NOTÍCIAS – Jair, antes de ser cantor, você teve
alguma profissão?
-
Sim. Fui alfaiate em São Carlos. E como a minha próxima parada foi Osasco,SP,
lá costurei muitas calças.
NOTÍCIAS – E quando você começou a cantar
profissionalmente?
-
Antes de gravar o primeiro disco, em 1960, cantei muito na noite de São Carlos e
Osasco. Era época de glória de Altemar Dutra, Simonal, Gilberto Gil, Caetano Veloso,
Gal Costa, Clara Nunes, Simone...
NOTÍCIAS – Quem lhe preparou para a carreira
profissional do disco?
-
Era uma casa noturna de São Paulo, onde era “crooner”, fiquei conhecendo a
dupla Venâncio e Corumbá, que na época fazia sucesso com “Sé deixo meu
cariri...” Eles me lapidaram. E, em 1962 me levaram para gravar. Hoje, tenho 41
anos como profissional de gravação!
NOTÍCIAS – Naquele tempo de início de carreira
artística profissional, que rádios você ouvia?
-
No interior eram as rádios Tamoio e Nacional. Em Sâo Paulo, eram Gazeta,
Bandeirantes e Record.
NOTÍCIAS – Por que a sua interpretação de “Disparada”
de Vandré e Theo, fez tanto sucesso?
-
Vivíamos uma época de repressão e, para não dar a impressão de que era música
de protesto, procurei dar uma interpretação no estio sertanejo.
NOTÍCIAS – Você já tem filhos despontando na
carreira musical, e com muito sucesso...
-
Graças a Deus meus filhos, Jair Oliveira e Luciana Melo, já estão com suas
carreiras-solo em franco desenvolvimento.
NOTÍCIAS – Até que ponto você exerceu influência na
definição da carreira de seus filhos?
- Assim como a minha mãe, Conceição, me incentivava no início de minha
carreira de cantor, devo ter feito o mesmo com eles, porque lá em casa vivemos
muito agarradinhos.
NOTÍCIAS – Você conviveu com Adoniran Barbosa?
-
Conheci Adoniran e os Demônios da Garoa no final da década de 1950 em São
Paulo, quando reinavam Izaurinha Garcia, Agostinho dos Santos, Paulo
Vanzolini... Tudo gente que cantava a autêntica música paulista! Que saudades
também do seresteiro Maurici Moura!
NOTÍCIAS – Fale de Elis Regina.
-
Me encontrei com Elis em 1965, no “Fino da Bossa”. E o Adoniran participou
muitas vezes desse nosso programa, na TV Record. Adoniran foi um companheirão
extraordinário, figura maravilhosa! Quando a gente se refere à música de São
Paulo, ninguém pode deixar de citar o grande Adoniran. Freqüentei muitas vezes
a lanchonete da Record, e lá conversei muito com ele.
NOTÍCIAS – Jair, qual sua mensagem para os
novos cantores e músicos que vem por aí?
- Meninada, já atravessei seis gerações e
confio nas que virão. Continuem desenvolvendo suas bandas de garagem!
Foi preciso interromper a
nossa entrevista porque o inquieto Jair Rodrigues veio em missão especial para
distribuir sua alegria contagiante.
E o salão da Fonte Santa
Tereza estava lotado, esperando-o.
E certamente não perdeu por
esperar!
*(entrevista publicada no jornal NOTÍCIAS DE VALINHOS em 14 de março de
2003)
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