“Rei dos selfies, Dalí, que admitia praticar um
"método paranóico-crítico" de pintura, antecipou em décadas o culto à
autoexaltação, em voga nos dias que correm. Dalí queria projetar seus delírios
nas telas. Com base na leitura do livro de Freud sobre a interpretação dos
sonhos, ele fez uma mistura híbrida e um tanto duvidosa de psicanálise e
pintura.” (http://maringa.odiario.com)
Uma retrospectiva do mais popular pintor surrealista (1904-1989) traz ao Brasil quase duas centenas
de obras do artista : 29 pinturas, 80 desenhos e gravuras, filmes, documentos,
fotografias e até uma réplica da instalação “Mae West Room”, que se encontra no
Museu Dalí de Figueres, terra natal do pintor espanhol.
A sala (room) original é composta por dois quadros do
artista, uma lareira e um sofá, que representam, respectivamente, os olhos, o
nariz e a boca da atriz americana Mae West (1893-1980).
Segundo especialistas, “esse é um ambiente propício para
uma imersão no universo surrealista de Dalí, nome que divide os críticos.
Embora reconheçam seu lugar na história, alguns deles tomam suas citações
pictóricas como apropriações sem crédito ou, no mínimo, como releituras
paródicas dos mestres, no limite do kitsch. Dalí podia ser irreverente ou
iconoclasta em suas entrevistas, repletas de frases de efeito, mas "levava
a sério a sua arte". Há, de fato, provas dessa dedicação, especialmente
nas gravuras que ilustram obras-primas da literatura mundial, desde o clássico Dom Quixote, de Cervantes, aos modernos Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont, e O Velho e o Mar, de Hemingway, passando pelo Fausto de Goethe e Alice no País da Maravilhas, de Lewis
Carroll”.
Em São Paulo, a exposição Salvador Dalí pode ser apreciada
no Instituto Tomie Ohtake.
Das obras expostas, o quadro "Máxima Velocidad de la Madona
de Rafael" (1954) é uma tradução contemporânea em
velocidade máxima do Madonna Colonna (52
X 38 cm), óleo sobre tela pintado por Raphael (1483–1520) entre 1507 e 1508,
que mostra uma serena Maria a segurar no colo o filho pequeno, apoiado sobre o
braço direito da mãe. Na mão esquerda, ela tem um livro aberto, como se a
criança a tivesse feito parar de ler. Maria olha o menino Jesus com amor e
doçura. Toda a composição inspira serenidade, calma e tranquilidade. A pintura
pertenceu à duquesa Colonna, daí seu nome, Em 1827 foi comprada pelo estado
prussiano e hoje se encontra na Gemalde Galerie, em Berlim.
“Às vezes, Dalí pintava o mesmo
quadro com luz e tons diferentes para levar o espectador a uma experiência de
terceira dimensão. Ele acreditava que, ao ter essa percepção tridimensional,
ele e o espectador estariam preparados para uma quarta dimensão, a da
imortalidade", comenta a curadora da mostra.
De maneira diferente da do
valinhense Paco di Ribes, também obcecado pela quarta dimensão expressa na pintura, o egocêntrico Dalí foi o rei dos
selfies, antecipando em décadas o atual culto à autoexaltação.
Edição n.ª 958 - Págian 02
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