“As crises não complicaram as urnas. E as
urnas? Resolverão as crises? “ Maria Eulália Picci Otto, Sanitarista)
Quem tem computador está
acostumado com teclas, números, siglas, caixas de diálogo e que tais.
Quem tem conta bancária
também está familiarizado com digitações, teclados numéricos, senhas,
confirmações.
Mas há de se convir que a
imensa maioria da população brasileira não tem acesso nem a um computador nem a
uma conta bancária.
No entanto, em quase todo o
território nacional, as TVs e os rádios estão ligados dentro dos lares, nas
favelas, na zona urbana e na rural, embaixo das pontes ou no sertão mais ermo,
onde já chegou a eletricidade. E, portanto, quase todas as pessoas têm direito
à informação do horário político gratuito.
Em 1955, Juscelino
Kubitschek elegeu-se presidente com 35% do total dos votos do País. Não havia
horário eleitoral gratuito e a TV nem sequer alcançava todas as capitais. Também
não havia segundo turno.
Em 1959, o jornalista
Itaboraí Martins, desencantado com os políticos, lançou o rinoceronte Cacareco,
hóspede do Jardim Zoológico de São Paulo, candidato a uma vaga na Câmara
Municipal. Naquela São Paulo antiga o animal recebeu mais de 100 mil votos de
protesto, sem outra propaganda que não a do jornalista e a de boca-a-boca, e
sem se esconder o fato de o postulante ao cargo ser um bicho!
Já em 1994, Fernando Henrique
Cardoso se elegeu com 54% dos votos válidos. E, embora o refrão “rouba mas faz”
(cunhado, na década de 60, pelo ex-governador paulista Adhemar de Barros para
ele mesmo) ainda seja aceito mais ao norte do mapa do Brasil para eleger velhos
coronéis, a última votação parece que evidencia mudanças nos quadros políticos
brasileiros.
Então, como , na hora de
uma eleição tão generalizada, para tantos cargos eletivos, mostrar a
insatisfação geral, a vontade de protesto quanto ao status quo? Isso foi
demonstrado através dos resultados apurados pelos avanços tecnológicos do “melhor sistema de votação do
mundo”
Na impossibilidade de
manuscrever o voto ou eleger o Seu Creysson, o povo protestou de outra maneira,
e já sabemos como.
Portanto, já que as crises
não complicaram as urnas, será que o resultado das apurações resolverá as
crises? Não há dúvidas de que houve
muita mudança.
Mas o que se quer é
transformação, e para melhor. Haverá?
Edição n.º 956 - Página 02
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