Quando
decidimos ser pais, uma das frases mais ouvidas é: você tem que criar seu filho
para o mundo. E é difícil para os pais (que aninham os filhos por anos, cuidam,
zelam, preparam...) compreenderem que esses filhos, de fato, não lhes
pertencem. O vinculo entre pais e filhos pode ser muito forte, dependendo do
tipo de relação que eles estabelecem entre si. Muitos pais querem proteger seus
filhos de passarem por dor e sofrimento, mas a verdade é que, por mais que os
pais tenham a ânsia de proteger incondicionalmente os filhos, o crescimento se
dá de dentro para fora, daquilo que experienciamos e principalmente daquilo que
sentimos verdadeiramente.
Daí
a importância de auxiliarmos nossas crianças a conhecerem as suas emoções, a
compreenderem seus sentimentos, a conhecerem suas potencialidades e
fragilidades. A maioria das crianças não é educada para compreender suas
próprias emoções, quando bebês nossa comunicação se dá através do choro: se
estamos com fome, choramos; se sentimos frio, choramos; se estamos com dor,
choramos; e nossos pais estão prontos a compreender e interpretar os motivos
que nos levam a chorar para prontamente intervir e diminuir nossos sofrimentos
e os deles próprios.
Conforme
vamos crescendo, somos expostos a diferentes tipos de emoções como, por
exemplo, a frustração e a raiva; a criança não conhece aquilo que está sentindo
e muitas vezes reage fazendo birra, se jogando ao chão ou chorando
compulsivamente. Nesse momento, nós adultos (que também temos nossas
dificuldades em lidar com nossas emoções, visto que também não fomos ensinados
a isso) temos a tendência a impedir essa manifestação, seja tirando o foco da
criança daquilo que ela está sentindo, seja nos afastando do “ataque” e
deixando a criança sozinha. Vivemos uma época em que as facilidades digitais e
tecnológicas têm “auxiliado” muitos pais nesse processo, a criança chora e logo
é entretida por um joguinho no “tablet”, nossas crianças são doutrinadas para magicamente
deixar de sentir, ou ignorar seus sentimentos.
Com
isso crescemos desconhecedores das nossas próprias emoções e sentimentos, e
vamos dia a dia aprendendo a não sentir, ou a “maquiar” aquilo que sentimos com
as mais diversas técnicas.
Obviamente,
nós não fazemos escola para os papéis mais importantes que exercemos em nossas
vidas e assim como em todos eles, aprendemos com os erros e acertos, portanto,
não se culpem pais e mães, porque vocês fizeram aquilo que era possível com o
que vocês tinham de conhecimento e experiência de vida no momento.
Existe
a possibilidade de ensinarmos nossos filhos, desde muito pequenos, a lidarem
com seus próprios sentimentos e emoções, e a melhor maneira de fazê-lo é
através da valorização da manifestação da criança. É necessário que os adultos
que convivem diretamente estejam atentos às manifestações de emoções para
auxiliar nesse processo de reconhecimento e criação de recursos internos.
Valorizar
é diferente de exaltar e ressaltar, valorizar segundo o dicionário é: “dar
valor, importância a (algo, alguém ou a si próprio) ou reconhecer-lhe o valor
de que é dotado”. Ou seja, quando uma criança faz birra, manha ou chora
compulsivamente, existe uma emoção, um sentimento ou uma necessidade por trás
dessa atitude e é isso que precisa ser valorizado.
No
momento do “ataque” não é possível estabelecer uma conversa e, portanto, é
preciso esperar passar. Esse tempo de espera pode parecer infinito e existem
algumas frases que podem facilitar o processo sem desvalorizar a queixa da
criança, por exemplo: Eu sei que você está brava por “tal” motivo, quando você
se acalmar a gente pode conversar melhor sobre o que você está sentindo e
juntos podemos chegar a uma solução.
Continua...
Edição
n.º 1011
Página
03
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