Este parecia que ia ser um
daqueles dias péssimos. O Dr. José levantou com uma dor de cabeça, que quase
não lhe permitia manter os olhos abertos. As têmporas latejavam como se
acompanhassem o ritmo de 1000 tambores
animadíssimos. Exatamente como se, dentro da sua cabeça 12 grupos do Olodum
disputassem , para ver quem batia mais rápido , mais alto e mais alucinado!
No entanto, Dr. José era muito consciencioso,
e levava a sério seus plantões no Pronto Socorro. Não achou que a enxaqueca
fosse desculpa suficiente para não ir atender as consultas marcadas e as de emergência, que sempre apareciam nos
plantões de sexta feira. Ainda mais que o tempo estava ensolarado, sem nem uma
chuvinha que serviria, certamente, para diminuir o afluxo de prováveis
pacientes.
O Dr. José chegou no
horário e foi direto para sua sala de atendimento, mal cumprimentando os
colegas de trabalho ou os funcionários do P.S, o que era contrário a todos os
seus hábitos de pessoa bem educada e simpática. Isso deixou todo mundo surpreso
e sem saber o que pensar. “Mas logo o Dr. José, tão brincalhão e descontraído ,
agindo assim? Que bicho teria mordido o homeme?”
E começaram as consultas. O
Dr. José, de cabeça baixa, apoiando a testa na mão, ouvia as queixas, e na hora
de escrever a receita, fechava os olhos doloridos e febris. A mão esquerda
apoiando a testa e a direita correndo sobre o receituário, ele parecia absorto,
como se estivesse psicografando. Trocava pouquíssimas palavras com os
pacientes, e ia atendendo uns após os outros.
Depois de duas horas dessa
rotina, ao chamar um paciente na sala de espera, reparou que a fila dos seus
atendimentos tinha aumentado muito, enquanto a dos outros dois colegas médicos,
tinha esvaziado. Como ele esperava que
aquela hora e depois de todas as consultas já dadas, a sua fila de espera
tivesse diminuído, ficou muito surpreso por , ao contrário, ela ter triplicado
de tamanho , enquanto as outras filas
sumiram.
Então, quis pedir ajuda aos
colegas de plantão. Será que eles não
poderiam dar consulta para alguns
pacientes e aliviá-lo da sobrecarga , já
que ele estava se sentindo tão mal?
E ouviu uma resposta bem inesperada:
“não adianta Dr José. Nós já
tentamos chamar os pacientes para passar
conosco. Mas todos preferem esperar para consultar com o “médico espírita”!
(publicado originalmente na edição n.º 34 de
08 de novembro de 1996)
Edição n.º 1008
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