sexta-feira, 5 de maio de 2017

Estórias que o povo conta “Aconteceu no Pronto Socorro”






Este parecia que ia ser um daqueles dias péssimos. O Dr. José levantou com uma dor de cabeça, que quase não lhe permitia manter os olhos abertos. As têmporas latejavam como se acompanhassem o ritmo  de 1000 tambores animadíssimos. Exatamente como se, dentro da sua cabeça 12 grupos do Olodum disputassem , para ver quem batia mais rápido , mais alto e mais alucinado!
 No entanto, Dr. José era muito consciencioso, e levava a sério seus plantões no Pronto Socorro. Não achou que a enxaqueca fosse desculpa suficiente para não ir atender as consultas marcadas e  as de emergência, que sempre apareciam nos plantões de sexta feira. Ainda mais que o tempo estava ensolarado, sem nem uma chuvinha que serviria, certamente, para diminuir o afluxo de prováveis pacientes.
O Dr. José chegou no horário e foi direto para sua sala de atendimento, mal cumprimentando os colegas de trabalho ou os funcionários do P.S, o que era contrário a todos os seus hábitos de pessoa bem educada e simpática. Isso deixou todo mundo surpreso e sem saber o que pensar. “Mas logo o Dr. José, tão brincalhão e descontraído , agindo assim? Que bicho teria mordido o homeme?”
E começaram as consultas. O Dr. José, de cabeça baixa, apoiando a testa na mão, ouvia as queixas, e na hora de escrever a receita, fechava os olhos doloridos e febris. A mão esquerda apoiando a testa e a direita correndo sobre o receituário, ele parecia absorto, como se estivesse psicografando. Trocava pouquíssimas palavras com os pacientes, e ia atendendo uns após os outros.
Depois de duas horas dessa rotina, ao chamar um paciente na sala de espera, reparou que a fila dos seus atendimentos tinha aumentado muito, enquanto a dos outros dois colegas médicos, tinha esvaziado. Como ele  esperava que aquela hora e depois de todas as consultas já dadas, a sua fila de espera tivesse diminuído, ficou muito surpreso por , ao contrário, ela ter triplicado de tamanho , enquanto as outras filas  sumiram.
Então, quis pedir ajuda aos colegas de plantão. Será que eles  não poderiam  dar consulta para alguns pacientes  e aliviá-lo da sobrecarga , já que ele estava se sentindo tão mal?
E ouviu  uma resposta bem inesperada:
“não adianta Dr José. Nós já tentamos chamar os pacientes  para passar conosco. Mas todos preferem esperar para consultar com o “médico espírita”!




(publicado originalmente na edição n.º 34 de 08 de novembro de 1996)






Edição n.º 1008

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