Entre os árabes, há uma
lenda muito pitoresca sobre a origem do uso do café.
Conta-se que Maomé, o
Profeta de Alá, anunciou que era proibido o uso do vinho. Os fiéis obedeceram,
mas o sacrifício desagradou a todos. Que
bebida poderia substituir o vinho reconfortante e risonho?
Num dia de verão, um pastor
ia pelo campo com seu rebanho. O calor e a tristeza produzida pela solidão
sugeriam-lhe idéias pouco alegres... Até os animais pareciam vitmas do cansaço
e caminhavam com indolência, mordiscando aqui e ali as escassas ervas
oferecidas pela terra calcinada.
Repentinamente, porém, toda
a paisagem se transformou e apareceu, ante os olhos do pastor, um lindo vale,
de um verde intenso. O rebanho, estimulado pela fome e pela sede, meteu-se no
meio dos arbustos e devorou, vorazmente, os frutos cor de fogo.
Com grande assombro, o
pastor notou que, pouco depois, seus carneiros brincavam, davam cambalhotas,
pulavam e corriam de um lado para o outro. A melancólica indolência
transformara-se numa estranha e inexplicável agitação.
Pensando que o fruto dessa
planta desconhecida tivesse, talvez, alguma substância capaz de fazer
enlouquecer homens e animais, apanhou um tanto das frutas para leva-las, no dia
seguinte, a um ancião que tinha fama de ser mago, e perguntar se ele poderia
descobrir o segredo das bolinhas escarlates.
O velho observou os frutos,
ferveu-os em água, e obteve um líquido muito aromático.
“O meu olfato se pronuncia
a favor dessa bebida, disse, e o olfato é quase sempre um amigo fiel”.
Os dois homens beberam o
perfumadíssimo licor e sentiram, imediatamente, uma alegre sensação de
otimismo. Então, o velho completou entusiasmado:
“Compreendendo Alá, em vez
de vinho, nos dá uma bebida que faz esquecer a tristeza e achar bela a vida”.
(publicado originalmente na Edição n.º
52 de 14 de março de 1997)
Edição n.º 1009
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