Muito se tem dito e escrito
sobre corrupção e a falta de ética na condução dos negócios públicos e também
privados e como isso é prejudicial a todos nós, a toda a sociedade. E nós
concordamos com veemência a esse respeito, até porque sabemos, indignados, que
tal conduta empobrece, desgasta e deprecia a Nação. Na verdade, envergonha a
todos, tanto aqui em território brasileiro, quanto lá fora em solo estrangeiro!
Contudo, é preciso que
façamos um exame de consciência, ou seja, que consultemos o nosso tribunal
interno, para nos questionarmos se não estamos contribuindo para isso, para
esse estado de coisas que corrói o país e está instalado como um câncer cuja
metástase se espalha cada vez mais e mais atingindo os vários poderes
institucionalizados da República.
Pensando bem, temos o
hábito de tentar levar vantagem em tudo, numa atitude que parece, aprendemos
assistindo o comercial do Gerson, lembram? Daí surgiu a “Lei da Vantagem”
ou “Lei de Gérson”. Essa expressão
originou-se em uma propaganda de 1976 criada pela Caio Domingues
& Associados, que havia sido contratada pela fabricante de cigarros J.
Reynolds, proprietária da marca de cigarros Vila Rica, para a divulgação
do produto. O vídeo apresentava o meia armador Gérson, jogador
da seleção brasileira de futebol como protagonista. O vídeo inicia-se
associando a imagem de Gerson como "cérebro do time campeão do mundo da
Copa do mundo de 70". No comercial, o entrevistador de terno e microfone
em mão, pergunta a Gérson que se encontra sentado num sofá de uma sala de
visitas, o porquê de Vila Rica? Durante a resposta recebe um cigarro de Gérson
e o acende enquanto ouve a resposta, que é finalizada com a frase: "Por
que pagar mais caro se o Vila me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro?
Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila
Rica!".
O fato é que a “Lei de
Gérson” acabou assimilada pelo inconsciente coletivo da população e passou a
configurar um princípio em que determinada pessoa ou empresa deve obter vantagens
de forma indiscriminada, sem se importar com questões éticas ou morais,
exprimindo traços bastante característicos e pouco lisonjeiros do caráter
midiático nacional que passou a ser interpretado como caráter da população,
associados à disseminação da corrupção e ao desrespeito a regras de convívio
para a obtenção de vantagens. Qualquer comportamento pouco ético foi sendo
aliado ao nome do jogador nas expressões Síndrome de Gérson ou
Lei de Gérson, passando a sua
interpretação a ser entendida como autorização para agir como malandro. Nos
anos 1980 os meios de comunicação em massa brasileiros começaram a divulgar
notícias sobre corrupção na política brasileira e a população começou a
utilizar o termo "Lei de Gérson".
E daí a coisa toda se
disseminou. Quantos jovens não utilizam a vaga do idoso para estacionar? E
mesmo o idoso quantas vezes não estacionou na vaga do deficiente físico? Você
já notou que parece que os carros estão saindo da fábrica sem seta? Por que não
utilizar esse equipamento, obrigatório aliás? Por que aguardar na fila do
banco, do supermercado, da quitanda, se posso passar na frente? Por que ceder
lugar a uma grávida, a um idoso, a um deficiente? Qual a vantagem que eu levo
nisso? Vou ganhar alguma coisa? Vou perder espaço? Por que não contribuir para
um trânsito mais ordenado evitando tantos acidentes, com um pouco mais de calma
e solicitude? Por que sujar as ruas, as praias, os parques, jogando papéis,
latas etc.? Por que não recolher o nosso lixo e dar-lhe o tratamento devido?
Parece que o importante é
se sair bem no enfrentamento do dia a dia, sem se preocupar com quem quer que
seja. E pouco importa que isso seja prejudicial a alguém. O que importa é que
se leve vantagem!
Enquanto pensarmos assim e
nada fizermos para mudar esses comportamentos, ainda que pequenos, mas que se
mostram tão relevantes, estamos, por certo, sendo coniventes com a
corrupção!...
Edição n.º 987 - página 08
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