“A
trilha era a mesma para todo mundo. Ao descer do ônibus, todos receberam um
mapa, algumas instruções simples e foram liberados para a caminhada. Como
sempre, um grupo de apressados saiu em disparada, como se fosse uma corrida
para ver quem chegava primeiro. O grupo do meio saiu “em ondas”, uns mais
tranquilos, outros nem tanto, mas basicamente todos curtindo o momento. Junto
desse grupo maior foi o primeiro guia. E para trás ficaram, como sempre, os
enrolados: um que esqueceu o protetor solar, outra que queria trocar a
camiseta, um que precisou ir ao banheiro, enfim, os retardatários. Com eles,
outro guia um senhor de mais idade, calmo, queimado de sol, e com muitas
histórias para contar.
O
primeiro grupo, o dos apressados, passou por uma cabana abandonada, e nem
reparou. Um deles comentou: “Que coisa, ninguém cuida de nada aqui”. Meia hora
depois, o segundo grupo passou pela cabana, e o guia falou: “esta cabana que
vocês estão vendo abandonada queimou há dez dias, quando um grupo de jovens
veio acampar e se descuidou”. Todos olharam com pena e prosseguiram.
O
terceiro grupo passou por ali e parou. O guia lhes contou que a cabana havia
sido construída originalmente por um garimpeiro em 1890 e que ele tinha passado
33 anos cavando um túnel porque jurava que ali existia ouro. E que depois
disso, a cabana tinha passado a servir de refúgio para vaqueiros que viajavam
com o gado pela região. Varias vezes havia sido atacada por índios e por isso o
reforço nas portas e janelas, como ainda se podia notar, mas não tinha
conseguido resistir a um bando de jovens que havia passado por ali dez dias
atrás sem se preocupar com a fogueira. Terminou notando que, mesmo queimada,
ela tinha certa beleza poética, heróica. Sozinha no meio da floresta, ainda
orgulhosa, lutando para ficar em
pé. O grupo ficou parado em silêncio, contemplando não mais
uma cabana, mas uma história. Imaginando todas as pessoas que haviam passado
por ali, a vida do garimpeiro, sua morte, os vaqueiros, os índios.
O
silêncio foi quebrado pela voz do guia: “Vamos?”. E foram conversando e observando
a paisagem.
O
terceiro grupo chegou ao ponto de encontro feliz, mas exausto. Os outros dois
grupos já estavam lá. O primeiro, dos apressados, com metade das pessoas já
querendo voltar e a outra metade estressada com os grupos que se atrasaram. O
segundo grupo estava tranqüilo, a caminhada tinha sido boa, uns, reclamando do
calor, outros elogiando as paisagens, um grupo normal.
Já
o terceiro grupo era diferente. Eram todos mais que amigos, eram cúmplices.
Havia um nível de energia, camaradagem e união que claramente não existia nos
outros. O guia era mais que um guia, era um líder. Alguém que tinha iluminado o
caminho, mostrado coisas que eles não conheciam e compartilhado experiências
emocionais. “Havia saído da trilha e feito todo mundo refletir sobre si mesmo,
sobre os outros, sobre a vida”.
Como
é bom ser capaz de olhar em volta e conseguir descobrir a história, a razão e os
motivos que estão atrás das coisas.
Para
isso é preciso se dispor a enxergar, disponibilizar um tempo, abrir a alma e
aquecer o coração.
Em
todas as situações da vida e nas menores coisas existe algo precioso que está
escondido! Só quem se acalma e abre sua mente consegue perceber. E então tudo
fica mais tranqüilo, mais leve, mais suave!
A
trilha da vida vai construindo a história pessoal de cada um, a história da
família, a história do lugar onde mora, a história do país onde nasceu.
A
trilha permite a superação dos obstáculos e a celebração das conquistas.
E
que Deus nosso Pai, nos ilumine e nos acompanhe na descoberta e na construção
da história da nossa vida.
Edição n.º 988 - página 03
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