"Vivo sou, vivo e
mortal. Morto serei, morto e imortal. Tenho em mim o anel do tempo. Sou o
princípio e o fim de mim. No fim me principio outra vez e sempre. Minha carne
apodrecível, não está finando não. Está é parindo minha alma, livre, afinal
para durar eternamente. É ela que, eterna, me dá continuidade."
(Darcy Ribeiro)
Darcy
Ribeiro (1922-1997), aqui
representado no traço de Jeferson Nepomuceno, foi um pensador humanista e um dos maiores intelectuais
brasileiros do século XX, que se tornou conhecido
mundialmente por suas pesquisas nas áreas de educação, sociologia, etnologia e
antropologia.
Na semana
passada, a TV Senado levou ao ar um bonito documentário, no qual vários
depoimentos costuram a história desse guerreiro sonhador e multifacetado. O
filme será reprisado no dia 2
de junho, às 12h30, no mesmo canal.
Intitulado Darcy - Um brasileiro
e dirigido por Maria Maia, é um passeio pela vida do antropólogo,
escritor e político conhecido por seu especial interesse nos povos indígenas brasileiros e por sua preocupação em buscar soluções eficazes para a educação, no
país.
Como antropólogo,
defendeu os índios; fundou o Museu do Índio; ajudou na criação do Parque
Nacional do Xingu; e documentou várias etnias em livros e fotografias.
Como educador e
professor, membro da Academia Brasileira de Letras,
fundou a Universidade
de Brasília, instituição da qual foi o primeiro reitor, no início
dos anos 1960; criou a Lei de Diretrizes Básicas da Educação; foi o
idealizador dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs). E foi um dos
idealizadores do Sambódromo carioca.
Como político, foi chefe
da Casa Civil do governo de João Goulart, lutou contra a ditadura
e foi exilado. Nos anos 1970, no exílio, teve câncer de pulmão. Foi
desenganado pelos médicos. Pediu aos militares autorização para voltar ao
Brasil, onde queria morrer. Voltou, e não morreu... Depois
da Anistia, fundou o PDT com Leonel Brizola, de quem foi vice-governador, no
Rio de Janeiro; e também foi senador da República.
Em 1995, pela
segunda vez driblou a morte: fugiu do hospital onde era tratado de câncer, porque não suportava o ambiente da
UTI, e porque queria terminar de escrever seu livro O Povo Brasileiro. Fugiu, escreveu, e viveu mais dois anos!
O
documentário apresenta o Darcy dos índios, que dedicou dez anos de sua vida a
entendê-los; o Darcy educador, que defendia que as crianças passassem o dia
todo nas escolas (“escola de turno é uma invenção brasileira”, criticava); e o
Darcy dos livros, entre tantos outros “fazimentos”, como ele gostava de dizer.
Mas a
história mais emocionante sobre Darcy Ribeiro é contada por uma das médicas que
cuidou dele. Pouco tempo antes de morrer – e percebendo que o fim se aproximava
– pediu: “doutora, estou com vontade de
dar uma aula, a senhora não me traz uma criança pra eu dar a aula?”. Deu aula a
uma criança de 9 anos. Falou sobre o Brasil, sobre a importância de respeitar
todas as culturas, a dos índios, a dos brancos, a dos negros e a dos mulatos.
Falou sobre escolas e sambódromos: era o testamento que ele queria deixar.
Agora imortal
e eterna, sua alma generosa, sonhadora e tão cheia de amor pelo Brasil vive
materializada nos seus depoimentos e entrevistas e na lembrança do seu sorriso.