sexta-feira, 10 de maio de 2013

A mãe da Mãe

                                  
A arte é ecumênica: reúne barro, madeira e ouro. O culto de Nossa Senhora parece ir além da devoção religiosa: a exclamação “minha Nossa Senhora” faz parte do nosso idioma diante de quaisquer situações inesperadas ou chocantes ─ eu mesmo a emprego, agnóstico que sou.” (José Mindlin, 1914-2010, presidente da Sociedade dos Amigos do Museu de Arte Sacra, em 2006)



  Para prestar homenagem ao Dia das Mães, as múltiplas e generosas faces de Sant´Ana − reveladas nas imagens feitas entre os séculos XVII e XIX − mostram a importância histórica e devocional da mãe de Maria e avó de Jesus no processo de colonização do Brasil.
            O culto a Sant´Ana começou no século XII, devido ao interesse pela origem e infância de Jesus. As atribuições dessa santa são muitas: além da autoridade sobre Maria (Sant´Ana é sempre representada apontando um livro à filha, estimulando-lhe a educação, o que não era comum entre as mulheres, naquela época), ela também é invocada na hora da concepção (consta que Ana era estéril e só concebeu pela graça de Deus), na hora do parto (por ter tido a graça de dar Maria à luz sem dores) e na hora da morte (por ter tido a assistência de Maria e de Jesus, no seu leito de morte). Em hebraico, Hanna significa, justamente, “graça”.
            Por todas essas qualidades, a figura de Sant´Ana é um símbolo moral e uma santa a quem se apela nas horas difíceis.
Na belíssima escultura Sant´Ana Mestra, em madeira entalhada e resinada feita por Aleijadinho (e pertencente à Coleção Renato Whitaker), se evidencia sua arte marcada por equilíbrio, harmonia e serenidade.
Antônio Francisco Lisboa (1730-1814) foi apelidado de “Aleijadinho” em virtude das múltiplas deformações causadas por uma doença degenerativa nas articulações (hanseníase ou alguma doença reumática). Quando perdeu os movimentos dos pés e das mãos, pedia a um ajudante para amarrar as ferramentas em seus punhos de modo a que pudesse esculpir e entalhar. Suas obras são ecumênicas, congregando em admiração pessoas de diferentes crenças, devoções religiosas e ideologias.

Apesar da “mancha de pele” (era filho de escrava negra com um mestre-de-obras português) chegou a arquiteto, uma arte liberal, graças ao clima de liberalismo político e social que existia em Minas Gerais na segunda metade do século XVIII: enquanto os Inconfidentes tramavam a liberdade política, o mestiço esculpia e desenhava a liberdade cultural, com sua obra de barro, pedra sabão, madeira, ouro, policromia, paixão e esperança.

Como mostra essa imagem da mãe da Nossa Senhora.








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