“A arte é ecumênica: reúne barro, madeira e ouro. O culto de Nossa Senhora
parece ir além da devoção religiosa: a exclamação “minha Nossa Senhora” faz
parte do nosso idioma diante de quaisquer situações inesperadas ou chocantes ─
eu mesmo a emprego, agnóstico que sou.” (José Mindlin, 1914-2010, presidente
da Sociedade dos Amigos do Museu de Arte Sacra, em 2006)
Para prestar homenagem ao Dia das Mães, as múltiplas e
generosas faces de Sant´Ana − reveladas nas imagens feitas entre os séculos
XVII e XIX − mostram a importância histórica e devocional da mãe de Maria e avó
de Jesus no processo de colonização do Brasil.
O culto a Sant´Ana começou no século XII, devido ao
interesse pela origem e infância de Jesus. As atribuições dessa santa são
muitas: além da autoridade sobre Maria (Sant´Ana é sempre representada apontando
um livro à filha, estimulando-lhe a educação, o que não era comum entre as
mulheres, naquela época), ela também é invocada na hora da concepção (consta
que Ana era estéril e só concebeu pela graça de Deus), na hora do parto (por
ter tido a graça de dar Maria à luz sem dores) e na hora da morte (por ter tido
a assistência de Maria e de Jesus, no seu leito de morte). Em hebraico, Hanna
significa, justamente, “graça”.
Por todas essas qualidades, a figura de Sant´Ana é um
símbolo moral e uma santa a quem se apela nas horas difíceis.
Na belíssima escultura Sant´Ana Mestra, em
madeira entalhada e resinada feita por Aleijadinho (e pertencente à Coleção
Renato Whitaker), se evidencia sua
arte marcada por equilíbrio, harmonia e serenidade.
Antônio
Francisco Lisboa (1730-1814) foi apelidado de “Aleijadinho” em virtude das
múltiplas deformações causadas por uma doença degenerativa nas articulações (hanseníase ou alguma doença reumática). Quando
perdeu os movimentos dos pés e das mãos, pedia a um ajudante para amarrar as
ferramentas em seus punhos de modo a que pudesse esculpir e entalhar. Suas
obras são ecumênicas, congregando em
admiração pessoas de diferentes crenças, devoções religiosas e
ideologias.
Apesar da “mancha de pele” (era filho de escrava negra com um
mestre-de-obras português) chegou a arquiteto, uma arte liberal, graças ao
clima de liberalismo político e social que existia em Minas Gerais na segunda
metade do século XVIII: enquanto os Inconfidentes tramavam a liberdade política,
o mestiço esculpia e desenhava a liberdade cultural, com sua obra de barro,
pedra sabão, madeira, ouro, policromia, paixão e esperança.
Como mostra essa imagem da mãe da Nossa Senhora.
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