“A
vida humana é tecida de prosa e de poesia. A poesia não é apenas uma variedade
de literatura, é também um modo de viver o amor, o fervor, a comunhão, a
exaltação, o rito, a festa, a embriaguez, a dança, o canto, que efetivamente
transfiguram a vida prosaica feita de tarefas práticas, utilitárias e técnicas.
A civilização ocidental moderna separou prosa e poesia. A vida de trabalho e a
vida econômica foram invadidas pela prosa e a poesia refugiou-se na vida
privada, no tempo que restou...”
(Morin,
sociólogo e pensador francês)
Interessante a
reflexão de Edgar Morin, de que a vida privada ficou restrita ao ‘tempo que
restou’... Me fez tentar especificar o tempo que a maioria de nós separa para o
profissional e para o pessoal. Difícil. Mais do que supunha.
Tentei fazer
diferente, então. Pensei em como vivenciamos a prosa e a poesia nos âmbitos
profissional e pessoal. Ficou mais fácil, mas igualmente perturbador.
Mas confesso – gosto
do que é perturbador – por mais estranho que pareça. Porque o perturbador é o
que me faz parar para pensar, mesmo em meio a tantas outras atividades do dia-a-dia.
Ah, esta características feminina – a de insistir em executar inúmeras tarefas
ao mesmo tempo... Mesmo que, nem sempre seja o melhor a fazer.
De um certo ponto de
vista, o que não perturba, acomoda. O que acomoda, paralisa. O que paralisa,
mata – o amor, a vontade, a energia vital.
Filmes e livros são
ótimos para nos fazer pensar.
Livros, de maneira
ainda mais especial, porque não dependem da eletricidade – mesmo à noite, uma
vela pode bastar. Não dependem de máquinas – nós é que viramos suas páginas,
uma a uma. Não dependem de espaço – podem ser levados debaixo do braço, na mão,
na bolsa. Até quem não enxerga pode usufruir dos livros escritos em Braile ou
de serviços de voz! Quem não pode comprá-los, pode fazer seu cadastro em uma
biblioteca pública e até levá-los emprestado!
Livros alimentam a
alma. Livros podem melhorar nosso desempenho profissional e podem nos fazer
melhores no âmbito pessoal. E como separar uma coisa da outra? Seres humanos
são tão especiais, justamente por reunirem muitos aspectos e enfoques, em um só
corpo, em uma só alma, em um só espírito.
O profissional sério
e competente, seja homem ou mulher, é o mesmo que rola no tapete da sala, para
brincar com os filhos. O bom desempenho numa tarefa, não compromete a outra –
pelo contrário. Certamente, vivenciar o máximo possível e equilibradamente cada
uma delas, o fará uma pessoa melhor. Um profissional melhor, um pai (ou mãe/
tio/ irmão/ filho) melhor – um ser humano completo.
Acredito que é para
isso que fomos criados – para sermos mais do que para termos. Para sermos
livres para ter, porque afinal, ter pode ser só consequência do que conseguimos
ser. Tanto no aspecto material, como no existencial.
E como ser, sem
livros? Como viver, sem livros?
Seriam apenas dias
seguidos de noites. E noites, seguidas de dias, numa sequência insípida.
Quero mais prosa e
poesia, para um tempo que transborde e inunde a vida. Com cor, sabor,
provocações, indagações e respostas.
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