sexta-feira, 19 de junho de 2015

Corrupção (padrão FIFA) dos vendilhões


O Brasil sofre de três angústias prolongadas. Tememos ir para o brejo; fomos catequizados pelo governo, nós que ainda não estamos no brejo, a nos sentir culpados pela miséria alheia. Por fim, temos a raiva contida: vivemos contendo nossa raiva impotente diante de predadores do nosso trabalho via impostos sem contrapartida, predadores do Estado para se eternizar no poder através da corrupção e da desconstrução da democracia, e, como se não bastasse, predadores do país por péssima gestão.” (Francisco Daudt, Folha de S.Paulo, 10/06/2015)


A nossa indignação é tamanha, que só lançando mão de textos jornalísticos de articulistas  que verbalizam tão bem o seu (deles) e o nosso descontentamento.
Francisco Daudt continua: “É só ver agora, quando foram chamar alguém competente e de "direita" para consertar a, digamos, obra que o voluntarismo de Madame fez na economia. E o acerto de contas só atinge a quem trabalha: os 39 ministérios, os milhares de cargos de "confiança" que aparelham o governo e as estatais seguem intocados. A raiva tem má fama, injustamente. "Os cristãos só devem ter amor no coração", diz o senso comum. Ainda bem que o fundador deles teve um ataque de raiva e expulsou os vendilhões do templo. Já imaginou a festa que ele faria no governo e no Congresso? A raiva é a mãe da justiça: sem indignação não se conserta o erro, não se pune o malfeitor, não se exila o tirano. Rui Barbosa, o jurista, sabia disso: "Diante do escândalo, não somente não peca o que se irar, mas pecará não se irando". Ele era um homem de visão, parecia estar falando dos nossos dias, mas estava falando de todos os dias de sempre. Nossa raiva, nossa capacidade de nos indignar, é um bem precioso para erguer, da Justiça, a clava forte!”
No mesmo jornal, no mesmo dia (Folha de S.Paulo, 10/06/2015), Elio Gaspari concorda: “Quando o PT estava na oposição e levantava a bandeira do imposto sobre grandes fortunas, isso poderia ser um projeto, ou mesmo demagogia. Hoje, é simples hipocrisia política. Petista gritando "fora Levy" faria melhor se murmurasse "fora eu". A rendição petista ao programa de Levy é um reflexo da exaustão intelectual do partido. Fernando Henrique Cardoso fez um arrocho para consertar estragos de governos anteriores. Roberto Campos, 30 anos antes, também. Levy tenta consertar estragos do mandarinato petista, potencializados no primeiro mandato da doutora Dilma. Ela pedalava as contas públicas, agora pedala uma bicicleta americana.”





O belíssimo quadro Jesus expulsando os vendilhões do templo (Rembrandt, 1626, coleção particular) pode inspirar o ataque de raiva e a nossa capacidade de nos indignar com o que vem acontecendo: esperemos que a Justiça, com sua clava forte, julgue e expulse os vendilhões (atuais e atuantes, e os ex-qualquer cargo, ainda atuantes nos bastidores) responsáveis por essa corrupção padrão FIFA que assalta o governo, o Congresso e a democracia brasileira.












Edição n.º 992 - página 01


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