“O Brasil
sofre de três angústias prolongadas. Tememos ir para o brejo; fomos
catequizados pelo governo, nós que ainda não estamos no brejo, a nos sentir
culpados pela miséria alheia. Por fim, temos a raiva contida: vivemos contendo
nossa raiva impotente diante de predadores do nosso trabalho via impostos sem
contrapartida, predadores do Estado para se eternizar no poder através da
corrupção e da desconstrução da democracia, e, como se não bastasse, predadores
do país por péssima gestão.” (Francisco Daudt, Folha de S.Paulo, 10/06/2015)
A nossa indignação é tamanha, que só
lançando mão de textos jornalísticos de articulistas que verbalizam tão bem o seu (deles) e o
nosso descontentamento.
Francisco Daudt continua: “É só ver
agora, quando foram chamar alguém competente — e de "direita" — para
consertar a, digamos, obra que o voluntarismo de Madame fez na economia. E o
acerto de contas só atinge a quem trabalha: os 39 ministérios, os milhares de
cargos de "confiança" que aparelham o governo e as estatais seguem
intocados. A raiva tem má fama, injustamente. "Os cristãos só devem ter
amor no coração", diz o senso comum. Ainda bem que o fundador deles teve
um ataque de raiva e expulsou os vendilhões do templo. Já imaginou a festa que
ele faria no governo e no Congresso? A raiva é a mãe da justiça: sem indignação
não se conserta o erro, não se pune o malfeitor, não se exila o tirano. Rui
Barbosa, o jurista, sabia disso: "Diante do escândalo, não somente não
peca o que se irar, mas pecará não se irando". Ele era um homem de visão,
parecia estar falando dos nossos dias, mas estava falando de todos os dias de
sempre. Nossa raiva, nossa capacidade de nos indignar, é um bem precioso para
erguer, da Justiça, a clava forte!”
No mesmo jornal, no mesmo dia (Folha de S.Paulo, 10/06/2015), Elio Gaspari
concorda: “Quando o PT estava na oposição e levantava a bandeira do imposto
sobre grandes fortunas, isso poderia ser um projeto, ou mesmo demagogia. Hoje,
é simples hipocrisia política. Petista gritando "fora Levy" faria
melhor se murmurasse "fora eu". A rendição petista ao programa de
Levy é um reflexo da exaustão intelectual do partido. Fernando Henrique Cardoso
fez um arrocho para consertar estragos de governos anteriores. Roberto Campos,
30 anos antes, também. Levy tenta consertar estragos do mandarinato petista,
potencializados no primeiro mandato da doutora Dilma. Ela pedalava as contas
públicas, agora pedala uma bicicleta americana.”
O belíssimo quadro Jesus expulsando os vendilhões do templo
(Rembrandt, 1626, coleção particular) pode inspirar o ataque de raiva e a nossa
capacidade de nos indignar com o que vem acontecendo: esperemos que a Justiça,
com sua clava forte, julgue e expulse os vendilhões (atuais e atuantes, e os
ex-qualquer cargo, ainda atuantes nos bastidores) responsáveis por essa
corrupção padrão FIFA que assalta o governo, o Congresso e a democracia
brasileira.
Edição n.º 992 - página 01
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