sexta-feira, 5 de junho de 2015

Um tapete de flores chamado Francisco


Os padres não sabem dançar o tango do papa Francisco.” (Fernando Altemeyer, professor de Teologia do Departamento de Ciência da Religião da PUC-SP, O Estado de S.Paulo, 01/06, C2)

Nesta semana de Corpus Christi, reproduzo aqui as palavras inspiradas do professor Altemeyer, sobre esse papa belíssimo tapete de flores que não se desmancha sob os pés de ninguém, mas continua alegre, livre e verdadeiro, a mostrar como se dança um tango desafiador nessa enrijecedora máquina de dois mil anos que é a igreja católica.




“Um sopro renovador no Vaticano. É assim que muitos estudiosos e milhões de fiéis, em todo o mundo, veem o papa Francisco, em seus dois anos de Vaticano, completados em abril.


Seja pela ousadia como diplomata, decisivo na reaproximação entre Cuba e Estados Unidos, seja pela coragem ao abraçar e chamar de “anjo” o chefe da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e canonizar duas freiras palestinas.
Ou, ainda, pelo rigor com que manda investigar abusos de padres e bispos, trazer à luz casos de pedofilia e homossexualismo nas dioceses e cobrar punição para fraudes financeiras.
Na maioria, os padres foram formados para serem burocratas, funcionários, e o Francisco pede que sejam missionários. O que a Igreja precisa, e muito, é de gente que vá pra rua.
Francisco é “um operário do diálogo”. Onde não há diálogo, há bloqueio – seja ideológico, político e/ou social, e se cria um clima rancoroso, preconceituoso, que tem de ser quebrado.
E eis que o papa Francisco pega seu martelinho e sai dando marteladas. Como o seu peso simbólico é enorme, cada martelada repercute.
Ele quer mexer com as periferias existenciais. Isso significa trazer para o centro quem está nas margens, dar palavra aos que estão em silêncio. Cuba é um exemplo, Líbano é outro.




O papa Francisco tem uma proximidade incrível com cada pessoa. O Barack Obama saiu diferente de seu encontro com ele. O Raul Castro chegou a dizer que vai rezar. Francisco recebeu a bispa luterana e a chamou de “minha irmã”. O Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, foi chamado por ele de anjo palestino... É uma sintonia inédita: ele tem essa capacidade de ver por dentro.
É difícil haver um personagem tão livre, tão fresco. Metido numa enrijecedora máquina de dois mil anos, ele está solto e não sente o peso do cargo.”











 Edição n.º 990 - página 01



Nenhum comentário:

Postar um comentário