“Os padres não sabem dançar o tango do papa Francisco.”
(Fernando Altemeyer, professor de Teologia do Departamento de Ciência da
Religião da PUC-SP, O Estado de S.Paulo,
01/06, C2)
Nesta semana de Corpus Christi, reproduzo aqui as palavras
inspiradas do professor Altemeyer, sobre esse papa — belíssimo tapete de flores que não se desmancha sob os pés de
ninguém, mas continua alegre, livre e verdadeiro, a mostrar como se dança um
tango desafiador nessa enrijecedora máquina de dois mil anos que é a igreja
católica.
“Um sopro renovador no Vaticano. É assim que muitos estudiosos
e milhões de fiéis, em todo o mundo, veem o papa Francisco, em seus dois anos de
Vaticano, completados em abril.
Seja pela ousadia como diplomata, decisivo na reaproximação
entre Cuba e Estados Unidos, seja pela coragem ao abraçar e chamar de “anjo” o
chefe da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e canonizar duas freiras
palestinas.
Ou, ainda, pelo rigor com que manda investigar abusos de padres
e bispos, trazer à luz casos de pedofilia e homossexualismo nas dioceses e
cobrar punição para fraudes financeiras.
Na maioria, os padres foram formados para serem burocratas,
funcionários, e o Francisco pede que sejam missionários. O que a Igreja
precisa, e muito, é de gente que vá pra rua.
Francisco é “um operário do diálogo”. Onde não há diálogo, há
bloqueio – seja ideológico, político e/ou social, e se cria um clima rancoroso,
preconceituoso, que tem de ser quebrado.
E eis que o papa Francisco pega seu martelinho e sai dando
marteladas. Como o seu peso simbólico é enorme, cada martelada repercute.
Ele quer mexer com as periferias existenciais. Isso significa
trazer para o centro quem está nas margens, dar palavra aos que estão em
silêncio. Cuba é um exemplo, Líbano é outro.
O papa Francisco tem uma proximidade incrível com cada pessoa.
O Barack Obama saiu diferente de seu encontro com ele. O Raul Castro chegou a
dizer que vai rezar. Francisco recebeu a bispa luterana e a chamou de “minha
irmã”. O Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, foi chamado por ele
de anjo palestino... É uma sintonia inédita: ele tem essa capacidade de ver por
dentro.
É difícil haver um personagem tão livre, tão fresco. Metido
numa enrijecedora máquina de dois mil anos, ele está solto e não sente o peso
do cargo.”
Edição n.º 990 - página 01
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