sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Incredulidade retumbante

                 

Quem duvidava do compromisso da presidente Dilma Rousseff com a boa gestão do dinheiro público tem mais uma razão, desde a semana passada, para imitar São Tomé e esperar para ver. O modo como a presidente tem tratado o escândalo da Petrobras – e ficou evidente em seu lamentável discurso de posse – é a prova provada de que vai uma enorme distância entre intenção e gesto, entre promessa e atos.” (Editorial, O Estado de S.Paulo, 06/01, A3)


O articulista Roberto Damatta também se sente indignado e escreve no Estadão (07/01, C8): “No dia 1.º, assisti à posse do segundo mandato da presidente. E constatei o paradoxo de que havia mais novidade, esperança e energia na posse de Getúlio Vargas (em 1951!) e na de JK (em 1956!) do que nesse apático rito de passagem de Dilma Rousseff. Um triunfo eleitoral marcado, aliás, pelo uso brutal e sem pejo do governo como máquina eleitoreira, exibindo autoridade, arrogância e pedantismo vazio:  como pode alguém que já vem governando há quatro anos os piores quatro anos de um governo brasileiro –, dizer que o povo quer mais e melhor do mesmo? Como dar crédito a quem governa, recebe críticas pelo que insiste em não fazer, e – no rito de posse – promete solenemente fazer o que disse que não faria quando governava?”




A charge de Sponholz mostra que desde a época de Getúlio as coisas não mudaram muito, no país.



E a charge do jornal “Última Hora” (15/12/1956) critica a política industrial de JK, que investiu 28% em transporte, mas apenas 2,8 % em educação.
Por isso é difícil acreditar que promessas de campanha eleitoral sejam cumpridas.
O belo quadro “Incredulidade de São Tomé”, pintado em ouro e têmpera sobre madeira por Duccio di Buoninsegna (1255-1319) e que está exposto no Museo dell'Opera del Duomo (Siena, Itália), representa um conhecido episódio bíblico (conferir em João 20:24-29): estando ausente na primeira aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos, Tomé duvida, não acredita e diz precisar de evidências ver o sinal dos cravos nas mãos e por o dedo no ferimento do peito de Cristo. Oito dias depois, quando os apóstolos, incluindo Tomé, estavam outra vez reunidos, Jesus aparece e diz a este último: “Põe o teu dedo no meu lado e olha as minhas mãos; não sejas incrédulo, mas crente.”



Para os brasileiros cheios de incredulidade retumbante, será preciso imitar São Tomé e esperar para ver para poder, finalmente, crer.









Edição n.º 969 - página 01

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