Muita gente ficou chocada
com a declaração pastoral e didática do papa Francisco no avião, de volta de
sua viagem às Filipinas, sobre a questão da natalidade. O papa ressaltou a
importância da paternidade responsável, que é o que defende a doutrina moral da
Igreja. Mas, na informalidade e no estilo pastoral que Francisco adota, de
linguagem mais direta para que o povo possa entender melhor a mensagem, o papa
usou um tom descontraído, afirmando o valor da família, com a abertura à vida,
dizendo que os casais tivessem o sentido da paternidade responsável e não
procriassem como coelhos.
A fala do papa, pela sua
importância como líder da Igreja, circulou pelas redes sociais, no mundo todo,
com questionamentos sobre essa abordagem.
Mas parece que a
interpretação literal é, no mínimo, equivocada, pois a fala de Francisco não
foi contra a família numerosa, respeitando quem possa hoje assumir o
compromisso de uma família com muitos filhos, mas chamou a atenção para a
responsabilidade de uma paternidade consciente. Foi isso o que o papa quis
dizer, bem de acordo com o que a Igreja defende em sua doutrina social. Não
houve aí nenhuma contradição. Talvez a comparação aos coelhos não tenha sido a
imagem mais adequada, mas o que o papa disse não está em dissonância com o
pensamento da Igreja.
Na realidade, sabemos que
hoje, diante da crise global em que vivemos, toda prudência se faz necessária,
em todos os campos da vida e da atividade humana. Há casais que aceitam o
sacrifício de ter muitos filhos, mas em condições de corresponder às exigências
de uma família numerosa, com trabalho honesto, etc. Nesse caso, a decisão do
casal é generosa e tem o apoio da Igreja. Mas há casos também de famílias
desestruturadas, que requer do casal um espaçamento maior entre as gravidezes,
até que o casal tenha uma estabilidade mínima compatível com as demandas
existentes. Isso não quer dizer que o casal não deva estar aberto à
fecundidade, mas o espaçamento maior se faz necessário diante de dificuldades
concretas e circunstanciais. Essa é a razão pela qual a Igreja sempre defenderá
o valor da família e da vida, mas com a prudência requerida, caso a caso.
O papa, em seu estilo
popular, preocupado em falar numa linguagem que o povo entenda, ressaltou o que
é importante: a necessidade de que o cristão tenha paternidade responsável, que
é valor da teologia Moral da Igreja sobre a família, e que merece, portanto, a
reflexão de todos.
Edição n.º 972 - página 08
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