“O CAOS NOSSO
DO DIA A DIA
(ou:
a teoria das minhas borboletas)
Sou avessa a equações, fórmulas e respostas certas. Não gosto de
nada definido. Certezas não me calam. Talvez - por ser uma eterna questionadora
e reverenciar o que não se explica - eu deva admitir, com respeito: sempre
me atraiu o conceito do caos. Não me entendam mal, por favor. A palavra, por si
só, já me traz simpatia: "caos" era usada pelos gregos como sinônimo
de fenda ou espaço infinito. A simples ideia me encanta. E não é só isso. A
teoria confirma a natural instabilidade do mundo (e de nós mesmos): há ordem na
desordem e desordem na ordem. Viu só? Pra mim, nada pode ser tão real. E
inspirador. Parece loucura? Olhe, então, a vida se desenrolar lá fora. Ou
atreva-se e vire para você mesmo. Previsões falham. Resultados nos surpreendem.
Contradições surgem. Fatos nos tiram do prumo quando tudo parece estar na
"mais perfeita ordem". O contrário também acontece. (E eu agradeço,
feliz, pela não-linearidade do mundo!). Li uma vez que o simples bater de asas
de uma borboleta pode provocar um tufão
do outro lado do planeta. Já avaliaram isso? Ah, não sei não. Não entendo nada
de física, nem de escalas temporais. Minha história é outra. Acredito que uma
pequena escolha na vida pode mudar muita coisa lá na frente. A dimensão de tal
fato? Não sei medir. Mas, por via das dúvidas, me asseguro: acalmo as
borboletas que voam na minha barriga e exijo-lhes ordem. Afinal, nunca se sabe
o temporal que somos capazes de criar.” – Fernanda Melo
“É preciso ter caos e frenesi
dentro de si para dar à luz uma estrela dançante." – Nietzsche
Escrever
bem é um grande desafio. Escrever bem em português, um desafio duplo! Porque,
convenhamos, diferentemente das outras, a Língua Portuguesa é complexa, de
forma muito especial.
Muitos
são os bons escritores, cada um com seu estilo, sua paixão. Porque sim, ser
escritor é ser um eterno apaixonado. Não dá para ser menos do que isso, não dá
para fazer de qualquer jeito, é preciso coração, veias, artérias, pulmão,
estômago!
Não há
como não perder o fôlego, diante de um texto escrito com paixão. Não há como
não se sentir ‘queimar’ ou ‘gelar’, ao se deparar com seus próprios sentimentos
transformados em letras, palavras, frases, textos completos. Não há como não
homenagear os escritores, todos os dias. Afinal, são eles que eternizam ideias
e acontecimentos. Que redigem a teoria que, praticada, transforma vidas...
Precisamos de mais leitores, de mais escritores, de mais esperança.
Nos
últimos meses, mais precisamente, muito se fala do caos. Problemas inúmeros e
de difícil solução ocupam mentes e corações, como nunca vi, nunca senti. Há um
temor e um gosto amargo, que insistem em não se dissipar, tornando tudo muito
sofrido. Para seres humanos, nada pior que a falta de esperança, já que ela
mina possibilidades, bombardeia o porvir...
Relendo
o texto de Fernanda Melo e a citação de Nietzsche, senti um alívio – benditos escritores!
Relembrei que o caos sempre existiu e sempre há a possibilidade de nos
surpreendermos, a cada dia. Nada é assim tão inédito. Nada é assim tão impossível.
Quando faço o que me cabe fazer, da melhor forma possível – e às vezes até
impossível... tudo pode acontecer!
Edição
n.º 972 – página 07
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