“Os pelegos da repressão verde amarela não tinham coragem para entrar
atirando numa redação, como os terroristas fizeram na semana passada em Paris.
Preferiam o terrorismo sorrateiro, dissimulado: uma bomba aqui, um incêndio em banca de jornais
ali, o trivial da covardia sem rosto.” (Sergio
Augusto, O Estado de S.Paulo 10/01,
C7)
O tablóide semanal “O Pasquim” foi a publicação brasileira mais assemelhada
ao francês “Charlie Hebdo”. Com seu humor irreverente e anárquico, “O
Pasquim” deu uma roupagem nova à linguagem do jornalismo brasileiro, uma forma
mais coloquial à publicidade e causou um forte abalo nos níveis da hipocrisia
nacional. Fundado em 1969, circulou até 1991, e sua
redação sofreu um atentado a bomba, na madrugada de 12 de março de 1970.
Além de
covardes, os terroristas a serviço dos fundamentalistas do regime militar
(1964/1985) não primavam pela competência. Quanto aos outros jornais nacionais,
eles noticiaram o fato no dia seguinte, com maior ou menor grau de solidariedade
à vítima. “Mas nem o mais solidário deles estampou em manchete “Nós somos “O
Pasquim”, reconhece o articulista do Estadão.
Em compensação,
nos atuais tempos de redes sociais e mensagens instantâneas, as charges e
mensagens de apoio às vítimas do “Charlie Hebdo” se multiplicaram ao redor do
mundo. Duas “Je suis Charlie”
chamam particularmente a atenção: a reprodução da personagem título da tirinha
“Charlie Brown”, chorando com a cabeça entre as mãos, e a face de Charlie
Chaplin, como Carlitos, em que as lágrimas lhe borram os olhos e mancham o
rosto maquiado de branco, sob a legenda “Eu sou Charlie e estou desolado”.
O humor
satírico, insolente, subversivo e abusado de Jaguar, Henfil, Millôr, Ziraldo,
Sérgio Cabral, Luiz Carlos Maciel, Miguel Paiva e Ivan
Lessa, entre outros, conhecia bem a falta de humor do regime
repressivo. E sofria, além de censura prévia, toda
sorte de pressões e constrangimentos, além do desmantelamento das formas
críticas de expressão cultural, porque, como escreveu Roberto Damatta (O Estado de S.Paulo, 14/01, C8), “o maior medo
dos radicais não é um outro radicalismo, mas o riso e o humor que carnavaliza e
sublima”.
Como pode ser
verificado pelas capas reproduzidas aqui, tanto o deboche escrachado da edição
nº. 105 do “Pasquim”, como a semelhança da edição comemorativa dos seus 40 anos
(com décadas de antecedência!) com a capa da “Charlie Hebdo” que provocou
o ataque terrorista na França é incrível!
Embora nunca a manchete “Nós somos “O
Pasquim” tenha sido estampada, “O Pasquim” sempre foi Charlie, cheio de humor
crítico e de liberdade de expressão, desde a sua fundação no final dos anos
1960.
Edição n.º 970 - página 01
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