“Nesses novos tempos, cabe, no ensino
de literatura, um espaço para a reflexão por outras artes e outros saberes,
pontuando-se sempre que a arte – e a literatura – só pode ser arte se
desautomatizar a linguagem, o que exige aprofundamento, paciência e consciência
de linguagem. Sempre o esforço: esta é a base da genialidade.”
Sandra Regina Nunes –
professora universitária
Um dos significados de arte,
segundo o dicionário Houaiss, é “produção consciente de obras, formas ou
objetos, voltada para a concretização de um ideal de beleza e harmonia ou para
a expressão da subjetividade humana. Dias 7 e 8 de janeiro foram,
respectivamente, Dia do Leitor e do Fotógrafo.
Alguém poderia argumentar
que, nem leitor, nem fotógrafo têm, necessariamente, relação com a arte.
Discordo. Leitor, para ser homenageado, precisa ser, no mínimo, um apreciador
de livros – tudo a ver com arte. E o fotógrafo, pela essência de seu ofício,
produz arte.
Em breve, mais um ano
letivo se inicia e infinitas possibilidades de aprendizado serão novamente
desencadeadas. Inúmeros são os desdobramentos do que se aprende, pouco
importando a área de conhecimento e atuação. Quem aprende, transmite o
aprendizado a outros, mesmo que parcialmente. Em geral é pelo exemplo, por suas
próprias atitudes, modificadas pelos ensinamentos assimilados – que é o modo
mais efetivo.
A sociedade atual tem
vivenciado muitos paradoxos. Dentre eles, o da linguagem. Nunca se falou tanto
em novas linguagens, como forma de expressão das diversidades. E a Língua
Portuguesa nunca foi tão desvalorizada.
Não entendo. Como dissociar uma coisa da outra? Muitos se consideram
alfabetizados, mas não conseguem interpretar textos simples, do cotidiano. Nem
tampouco transmitir opiniões e ideias através de textos. Só pode ser por isso
que é possível ‘zerar’ na prova de redação da FUVEST!
Se vivemos num país de
língua portuguesa, é através dela que nos comunicamos. Todas as demais
disciplinas dependem do aprendizado da língua, falada e escrita. É o básico. A
partir daí, tudo é interação. Como falar em interdisciplinaridade, autonomia e
cidadania, àqueles que mal falam e escrevem sua língua natal?
O tema ‘Educação’ vai muito
além das considerações sobre o ano letivo, dos planos de governo. Mas começa em
casa, porque está ligado à noção de valores. E no que diz respeito a valores,
somos multiplicadores. Mais uma vez, pelo exemplo.
Se, como diz a professora
Sandra Regina Nunes, para desautomatizar a linguagem é preciso o esforço do
aprofundamento e da consciência da linguagem, sem o qual não se produz arte, é
preciso investir mais tempo e recursos na educação, em casa. Sem arte, leitores
e fotógrafos não sobreviverão.
Edição n.º 969 - página 07
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