Comemoremos o que aconteceu em Valinhos há
103 anos?
Felizmente, a tenacidade de João Rubinato
(Adoniran Barbosa) não ficou atolada no barro da olaria às margens do Ribeirão Pinheiro, em Valinhos, onde o compositor nasceu em 7 de agosto de 1910,
sete dias antes que Thomas Edison inventasse o cinema falado.
Adoniran nos deu o exemplo de como
trabalhar, com genialidade e criatividade, dons pessoais e intransferíveis. É
que ele soube identificar a sementinha da sabedoria inata que o Criador
implantou em seu destino.
Adoniran não podia mesmo continuar vivendo
em Valinhos. Ele precisaria ir para São Paulo, onde iria conhecer os recursos
dos meios de comunicação sonoros, visuais e impressos (rádio, circo, cinema,
teatro, gravadora, televisão, jornais e revistas) para divulgar suas
composições, cantar e representar os personagens aos quais daria vida, com
visão crítica, jocosa, romântica, com sua política social e desportiva, de
verve popular.
E foi por sua vivência na cosmopolita
capital que Adoniran se tornou o maior cronista de São Paulo e sua obra mereceu, e continua merecendo,
estudos e pesquisas de mestrandos e
doutorandos, além de livros que comentam suas composições e seus personagens.
O sociólogo, escritor, crítico literário e professor universitário (Universidade
de São Paulo), Antonio Cândido, fez
questão de recomendar, já em 1975, o LP lançado pela gravadora Odeon: “Adoniran
Barbosa é um grande compositor e poeta popular... Da mistura, que é o sal de nossa terra, Adoniran colheu a flor e
produziu uma obra radicalmente brasileira, em que se identificam as melhores
cadências do samba e da canção.
A fidelidade à música e à fala do povo
permitiu a Adoniran exprimir a sua cidade (São Paulo), de modo completo e
perfeito. Ele apurou um novo modo cantante de falar português, como língua
geral na convergência dos dialetos peninsulares e do baixo contínuo vernáculo. A sua poesia e a sua
música são, ao mesmo tempo, brasileira em geral e paulistana em particular.
Texto Tom Santos |
Talvez João Rubunato não existia, porque quem existe é o mágico Adoniran
Barbosa, vindo para inventar no plano da arte a permanência da sua cidade e
depois fugir, com ela e conosco, para a terra da poesia, ao apito fantasmal do
trenzinho perdido da Cantareira”.
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