Uma das queixas mais comuns, feita pelos
pais em consultórios de pediatria e de urologia é de que seus filhos continuam
a urinar na cama à noite e mesmo na roupa durante o dia.
A ENURESE é definida como uma micção
involuntária persistente, em momento e local inadequados, em crianças com mais
de 4 anos de idade. A enurese pode ser classificada em enurese diurna, noturna
ou ambas. Pode ser classificada ainda em primária, quando a criança nunca
demonstrou controle da micção ou, secundária quando a criança apresentou um
período de pelo menos 6 meses de
continência, ou seja, de controle da micção. O diagnóstico de enurese só deve
ser considerado em crianças acima de 4 a 5 anos de idade. Nesta faixa etária em
torno de 20% das crianças tem enurese noturna, que a cada ano aumenta a
probabilidade de resolução espontânea, estando presente em apenas 1% a 2% na
adolescência. Nesta fase o tratamento é mais difícil. É mais freqüente no sexo masculino e ocorre
de forma primária em 75% dos casos (nunca houve fase de melhora
anteriormente). Na grande maioria dos casos a forma noturna é a mais
freqüente (80%) e não tem outros sintomas associados (monossintomática). As
crianças que tem enurese diurna e noturna, geralmente tem outros problemas
funcionais de bexiga (instabilidade do músculo da bexiga).
As causas de enurese são múltiplas como:
fator genético, em que a criança apresenta 77% de chance de ter enurese quando
pai e mãe foram enuréticos, 43% quando apenas
um dos pais teve o problema e em torno de 15 % quando não há história
familiar. O fator orgânico-funcional como diminuição da capacidade da
bexiga, produção excessiva de urina à noite (baixa produção do hormônio anti-
diurético) e dificuldade do paciente em acordar mesmo com a bexiga muito
cheia. Os fatores psicológicos são mais associados a enurese secundária que
ressurgiu após algum trauma psicológico. Problemas psicológicos na enurese
primária representam conseqüências e não causa (a criança não pode dormir na
casa de amigos, muitas vezes é ridicularizada dentro da própria casa ou na
escola,....).
O diagnóstico passa por uma anamnese
cuidadosa, ou seja, tirar dos pais uma
história detalhada. Importante saber se é enurese primária ou secundária. Caso
tenha outros sintomas associados, pode apresentar doenças da medula espinhal,
infecções urinárias, anomalias da uretra em meninos e meninas e obstipação
intestinal (enurese polissintomática).
O exame físico costuma ser normal,
devendo-se observar massa abdominal (retenção urinária), déficit neurológico
alterações da coluna lombossacra, alterações da prega glútea... Como exame
apenas o de urina tipo 1 e urocultura para excluir infecção urinária. A
ultrassonografia do aparelho urinário e exame urodinîco são pedidos em casos
selecionados.
Tratamento (após 5 anos de idade):
Boa orientação aos pais no lidar com o
problema (Bom relacionamento médico, pais e criança, terapia de condicionamento,
acordando a criança para urinar durante a noite. A criança sempre deve urinar
antes de se deitar dando também responsabilidade a ela na colaboração com o
tratamento, jamais expor a criança a situações vexatórias, pelo contrário,
elogiando ou agradando quando a criança
não acordou molhada...)
Diminuir a ingestão de líquidos a partir do
jantar.
Desmopressina (DDAVP), que pode ser em spray
ou via oral (medicação cara mas eficaz)
Imipramina (medicação de baixo custo,
antiga mas eficaz. Requer cuidados quanto a dosagem)
Oxibutinina (retemic): mais eficaz na
enurese diurna e noturna.
Alarmes: mecanismo adaptado ao colchão, que
tocam campainha quando molhados (demora para produzir resultados mas é eficaz).
Tratamento psicológico concomitante sempre
é importante.
Concluindo, a enurese sempre deve ser abordada com muito interesse pois traz transtornos importantes para a criança e seus pais. Embora tenha alto índice de cura espontânea, deve ser tratada precocemente já a partir dos 5 anos de idade.
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