Nas sessões do
julgamento do mensalão, já ocorreram várias discussões entre ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF), a mais alta corte de justiça do país. E não por
acaso todas essas discussões têm como denominador comum a figura do ministro
Joaquim Barbosa, presidente do tribunal. Numa dessas sessões, o ministro Marco
Aurélio Mello referiu-se a dificuldade que teve em retomar o voto sobre Ramon
Hollerbach, que tinha sido interrompido duas semanas antes, algo que não
agradou ao relator Joaquim Barbosa.
"Só
peço que Vossa Excelência cuide muito bem das palavras quando eu estiver
falando", advertiu o ministro Marco Aurélio. Barbosa respondeu dizendo que
sabe "muito bem usar o vernáculo". Marco Aurélio não gostou de uma
risada do colega e o corrigiu: "Não sorria, ministro, estamos no Supremo.
Não cabe deboche." Uma referência à pena dada a Marcos Valério iniciou
outro confronto e Marco Aurélio pediu a Barbosa: "Vossa Excelência escute
antes de retrucar. Não insinue, ministro. Eu não admito que Vossa Excelência
suponha que todos aqui nesse plenário sejam salafrários e só Vossa Excelência
seja um vestal."
Mais recentemente, o bate-boca entre os
ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, encerrou precocemente a sessão
plenária da quinta-feira passada do julgamento do mensalão. Estupefatos, os
advogados dos réus e os demais integrantes da corte ficaram por entender. Não
que o antagonismo e as rusgas entre os dois magistrados, que ocupam o papel de
relator e revisor do mensalão, respectivamente, seja novidade. O que chamou a
atenção foi a virulência com que Barbosa tentou impedir o colega de discorrer
sobre a possibilidade de aplicar-se uma legislação mais branda na definição da
pena dos mensaleiros condenados por crimes de corrupção. A reação pareceu — e
foi — desmedida. Mas também é fato que a intervenção de Lewandowski pouco tinha
de inocente.
Após a confusão, o site de VEJA ouviu de
dois ministros da corte e de advogados envolvidos no julgamento a mesma avaliação:
Barbosa identificou na conduta de Lewandowski uma tentativa de preparar terreno
para aliviar a pena dos réus centrais do esquema, mais precisamente a cúpula do
PT no auge do mensalão.
O bate-boca começou porque Barbosa
acusou Lewandowski de tentar usar um embargo de declaração — recurso destinado
a esclarecer eventuais omissões ou contradições na sentença — para reabrir um
tópico do julgamento do réu Bispo Rodrigues, que era deputado federal do
extinto PL (hoje PR) na época do escândalo. Rodrigues foi condenado por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro a seis anos e três meses de prisão. Ele
questiona o fato de ter sido condenado por corrupção passiva com base na Lei
10.763, de 2003, que prevê penas mais altas para corrupção. O argumento do réu
é que o acordo financeiro firmado entre o PT e o PL ocorreu em 2002, quando
estava em vigor uma legislação mais branda para crimes de corrupção. O ministro
presidente classificou a intervenção de Lewandowski como “chicana” (no jargão
jurídico, uma manobra para dificultar o andamento de um processo).
A ser aceita a tese do Bispo Rodrigues, como parece pretender o ministro Lewandowski, mudando o entendimento
assentado pelo STF, José Dirceu e Delúbio Soares receberiam, no mínimo, um ano
a menos de cadeia. No caso do deputado José Genoino, a sentença final poderia
ficar abaixo dos seis anos de reclusão em regime semiaberto.
Por enquanto os ministros da Suprema
Corte ainda estão no bate-boca. Mas, por certo, nesse andar da carruagem, logo,
logo, estarão praticando, em plenário, ao vivo e a cores, a arte marcial
tailandesa do muay thai. Que belo e edificante espetáculo!
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