Nunca
fui um aficionado de esportes, como meu pai Aurélio, que foi campeão campineiro
de natação e estadual de remo, ao lado do saudoso Ramasco. Na verdade, sempre
estive ligado às atividades intelectuais. Ademais disso, confesso, vergonhosamente,
que sou um sedentário convicto, nesta era do culto helênico ao corpo. O que é
um mal na minha idade e preciso fazer alguma coisa para mudar esse hábito e
essa cultura pessoal.
Mas
gosto de assistir alguns esportes, principalmente quando vejo neles estratégia,
inteligência, ação e, principalmente, a vontade que os participantes têm de praticá-los,
a garra e a determinação com que buscam vencer os obstáculos que são colocados
à sua frente. Isso dá emoção e faz com que participemos também de cada lance ou
de cada gesto do atleta ou dos atletas quando em equipe. Parece que vencemos
junto as barreiras ou, pelo menos, nos esforçamos para isso. E, talvez por
isso, não posso deixar de voltar a tecer algumas considerações sobre o massacre
que foi o jogo da semifinal Brasil x Alemanha (1x7), acumulando recordes
negativos ao atual pentacampeão do futebol mundial. Até porque num primeiro
comentário já tinha dito que o que ocorreu não pode e não deve ser esquecido,
pois nos deixou amargas lições. Primeira, que realmente o time de Felipão não
teve técnica, inteligência, criatividade e controle emocional diante dos
alemães. Mas tudo isso também porque os alemães, diferentemente dos
brasileiros, se prepararam, treinaram, trabalharam em equipe, porque o que o
mundo viu foi que havia apenas um time em campo, e foi até constrangedor para a
Alemanha ter de evitar um desastre ainda maior, com uma goleada superior.
Ficaram com dó. Deixaram até de fazer um golzinho no final. O que houve foi que
se subestimou o adversário, em todos os aspectos. As cenas dos jogadores
entrando no ônibus cantando pagode mostravam que não estavam nem um pouco
preparados, nem preocupados, nem concentrados, com o que vinha pela frente.
Tudo era festa. Diante dos alemães, só restou chorar feito meninos procurando o
papai. Realmente, faltou palmada nesses garotos mimados. Moral da
história: o preço da molecagem está aí, no resultado mais catastrófico de toda
a história do futebol brasileiro.
Isso tudo deve nos levar a
refletir, de que se o Brasil teve um passado glorioso no futebol, é porque teve
quem levou o esporte bretão mais a sério e fez, no mínimo, a lição de casa.
Mesmo perdendo no México, em 1982, até hoje o time de Telê Santana é
respeitado, porque lá havia um time, houve garra. Os meninos do Felipão
contaram com a sorte, com a magia do futebol, com a improvisação, e está aí o
resultado. A se considerar também que, com exceção de três jogadores
(Neymar, Thiago Silva e David Luiz) os demais eram medíocres. A pretendida
qualidade da seleção não passou de uma arquitetura “global” liderada pelo
Galvão Bueno. O futebol brasileiro precisa mudar muito na gestão e nos seus
aspectos táticos e estratégicos.
Como disse Lya Luft em
recente artigo “É natural que um atleta se emocione com tristeza ao perder. Mas
aquele bando de homens abraçados chorando, um consolando o outro como
menininhos de jardim de infância, me aborreceu. (...) E estranhei, impliquei
com a súbita retirada, verdadeira fuga da nossa equipe depois da última
derrota, embarafustando-se pelo vestiário (para chorar?) em lugar de,
anfitriões que eram, ficar firmes em campo homenageando os vencedores, que
recebiam medalhas. Seria duro, mas seria natural e honroso.” (Veja, edição
2384, nº 31, 30/7/14, p. 22).
E me permito concluir com a
ilustre escritora, mesmo porque nada mais tenho a acrescentar, fazendo das suas
irrepreensíveis palavras as minhas: que essa lição sirva não só para o nosso
esporte, mas para a nossa vida, nosso trabalho, nossas entidades e instâncias
públicas: que a gente seja dignamente vitorioso, ou dignamente perdedor
(vitorioso, eu espero).
Ed. n.º 946 - Página 8
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