sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O futebol e a vida



Nunca fui um aficionado de esportes, como meu pai Aurélio, que foi campeão campineiro de natação e estadual de remo, ao lado do saudoso Ramasco. Na verdade, sempre estive ligado às atividades intelectuais. Ademais disso, confesso, vergonhosamente, que sou um sedentário convicto, nesta era do culto helênico ao corpo. O que é um mal na minha idade e preciso fazer alguma coisa para mudar esse hábito e essa cultura pessoal.
Mas gosto de assistir alguns esportes, principalmente quando vejo neles estratégia, inteligência, ação e, principalmente, a vontade que os participantes têm de praticá-los, a garra e a determinação com que buscam vencer os obstáculos que são colocados à sua frente. Isso dá emoção e faz com que participemos também de cada lance ou de cada gesto do atleta ou dos atletas quando em equipe. Parece que vencemos junto as barreiras ou, pelo menos, nos esforçamos para isso. E, talvez por isso, não posso deixar de voltar a tecer algumas considerações sobre o massacre que foi o jogo da semifinal Brasil x Alemanha (1x7), acumulando recordes negativos ao atual pentacampeão do futebol mundial. Até porque num primeiro comentário já tinha dito que o que ocorreu não pode e não deve ser esquecido, pois nos deixou amargas lições. Primeira, que realmente o time de Felipão não teve técnica, inteligência, criatividade e controle emocional diante dos alemães. Mas tudo isso também porque os alemães, diferentemente dos brasileiros, se prepararam, treinaram, trabalharam em equipe, porque o que o mundo viu foi que havia apenas um time em campo, e foi até constrangedor para a Alemanha ter de evitar um desastre ainda maior, com uma goleada superior. Ficaram com dó. Deixaram até de fazer um golzinho no final. O que houve foi que se subestimou o adversário, em todos os aspectos. As cenas dos jogadores entrando no ônibus cantando pagode mostravam que não estavam nem um pouco preparados, nem preocupados, nem concentrados, com o que vinha pela frente. Tudo era festa. Diante dos alemães, só restou chorar feito meninos procurando o papai. Realmente, faltou palmada nesses garotos mimados. Moral da história: o preço da molecagem está aí, no resultado mais catastrófico de toda a história do futebol brasileiro. 
Isso tudo deve nos levar a refletir, de que se o Brasil teve um passado glorioso no futebol, é porque teve quem levou o esporte bretão mais a sério e fez, no mínimo, a lição de casa. Mesmo perdendo no México, em 1982, até hoje o time de Telê Santana é respeitado, porque lá havia um time, houve garra. Os meninos do Felipão contaram com a sorte, com a magia do futebol, com a improvisação, e está aí o resultado.  A se considerar também que, com exceção de três jogadores (Neymar, Thiago Silva e David Luiz) os demais eram medíocres. A pretendida qualidade da seleção não passou de uma arquitetura “global” liderada pelo Galvão Bueno. O futebol brasileiro precisa mudar muito na gestão e nos seus aspectos táticos e estratégicos.
Como disse Lya Luft em recente artigo “É natural que um atleta se emocione com tristeza ao perder. Mas aquele bando de homens abraçados chorando, um consolando o outro como menininhos de jardim de infância, me aborreceu. (...) E estranhei, impliquei com a súbita retirada, verdadeira fuga da nossa equipe depois da última derrota, embarafustando-se pelo vestiário (para chorar?) em lugar de, anfitriões que eram, ficar firmes em campo homenageando os vencedores, que recebiam medalhas. Seria duro, mas seria natural e honroso.” (Veja, edição 2384, nº 31, 30/7/14, p. 22).

E me permito concluir com a ilustre escritora, mesmo porque nada mais tenho a acrescentar, fazendo das suas irrepreensíveis palavras as minhas: que essa lição sirva não só para o nosso esporte, mas para a nossa vida, nosso trabalho, nossas entidades e instâncias públicas: que a gente seja dignamente vitorioso, ou dignamente perdedor (vitorioso, eu espero).




Ed. n.º 946 - Página 8




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